A Federação Portuguesa pela Vida revelou que Portugal, entre 2007 e a presente data, realizou 256 070 abortos a pedido da mulher, independentemente dos que possam ter ocorrido de modo clandestino ou por força da aplicação do art.º 142º do Código Penal; e a Pordata disse que Portugal, em 50 anos, perdeu um milhão de crianças e jovens. Feitas as contas, o aborto concorreu com 25% do total da cifra anunciada por aquela base de dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
O aborto é uma ação que destrói o que conscientemente se criou. E se o embrião é já uma forma de vida que tem direito à existência, quem tem o direito de extingui-lo? Demais a mais, o homem não é dono da vida, porque a vida está antes e depois dele. Nas legislações estaduais, o aborto deixou de ser crime (desde que realizado dentro um certo período da gestação); mas nunca deixará de o ser para a lei natural, porque o homem mata em si um instinto sobre o qual não tem domínio, tornando-se na única criatura do mundo animal que rejeita a maternidade.
Segundo Jean Toulat (Aborto – Crime ou Libertação?) (1), o aborto entrou na Europa vindo dos Estados Unidos da América, onde a televisão de New York fez campanhas favoráveis à liberalização, apresentando jovens grávidas a saírem das superclínicas com sorrisos estampados no rosto. Em 4 de janeiro de 1971, o New York Times denunciou que, dos 50 000 abortos praticados de julho a dezembro de 1970 naquele estado, 11 mães morreram e 26 crianças saíram com vida da imersão tóxica, algumas das quais sucumbiram pouco depois; mas outras foram atiradas para o forno crematório ainda vivas e a gritar. Exceto uma menina vigorosa que o abortador, desorientado, colocou precipitadamente numa incubadora. Apesar do escândalo, nada impediu que o aborto se tornasse na grande big business da América!
A partir de 1968, clínicas de Londres começaram por fazer abortos até à 28ª semana (quando o bebé já se prepara para a vida fora do útero); passando depois a seduzir também as aborticidas francesas, propondo-lhes para uma gravidez até à 14ª semana um preço de 2 400 francos. Porém, se a gravidez fosse de vinte semanas, o preço seria fixado pelo médico abortador. Arrastadas por essa onda libertária, 343 mulheres francesas declararam ter praticado o aborto, enquanto defendiam o direito de dispor do feto a seu bel-prazer, com Simone de Beauvoir à cabeça. Esta conhecida feminista andou por toda a França a dizer que «um aborto executado corretamente é uma operação tão inofensiva como a extração de um dente.»
Quando a liberalização do aborto começou a ser discutida em França, no princípio da década de 70, a advogada Gisèle Halimi disse publicamente que «o aborto não consiste em matar um ser humano, mas em impedir que uma trouxa informe de células se transforme num ser humano não desejado.» Em consequência deste tipo de disparates, os laboratórios Guigoz (França) produziram um filme intitulado Les Premiers Jours de la Vie, sobre a gestação do ser humano desde o momento em que duas células dão origem a uma célula original, isto é, a um novo ser portador de uma dupla herança: 23 cromossomas do pai e 23 cromossomas da mãe.
A célula original divide-se em duas, que produzem quatro, estas produzem oito, dezasseis, trinta e duas… até aos 60 000 biliões que constituem a criança, na altura do seu nascimento. Ao 18º dia o embrião começa a tomar forma: pequenas protuberâncias indicam as costelas, já se nota um fio que virá ser a espinal medula; uma intumescência será a cabeça, onde ganha contornos um cérebro rudimentar. Por volta da terceira semana, certas células começam a pulsar, como primícias da palpitação do coração; desenham-se os membros e o rosto. Aos três meses já não se fala de embrião, mas de feto. O bebé já se mexe, exercita pernas e braços e ao quinto mês dá o primeiro soco, como que para dizer: Mãe, estou aqui!
Quem tem o direito de acabar com a mais bela aventura do género humano?
Aborto – Crime ou Libertação?, Jean Toulat, Publicações Europa-américa, 1974