A realidade é o tecido objetivo da existência. A percepção, por sua vez, é a lente subjetiva através da qual interpretamos a realidade. Ambas coexistem, mas a percepção é moldada por experiências, crenças e emoções. O espaço entre a realidade e a percepção é, por sua vez, uma interseção complexa onde as sensibilidades da experiência humana se fundem, distorcendo por vezes, ora por ação, ora por omissão, a compreensão da verdade objetiva.
Por esta altura estarão já, provavelmente, a perguntar que raio de conversa é esta de realidade e percepção.
Hoje, tempo por excelência das “fake news”, das “pós-verdades”, do império do parecer sobre o ser, do triunfo das aparências sobre a essência, é fundamental pensar e refletir Braga sob os ângulos da realidade e da percepção.
A percepção, criada em grande medida por ação direta e dirigida da, cara e pesada, máquina de comunicação – ou será propaganda? – da Câmara Municipal de Braga, vende-nos todos os dias uma cidade idílica, extraordinária e virtuosa, engalanando pequenos feitos e conquistas como realizações de grande monta, êxitos notáveis e proezas monumentais.
A realidade, por sua vez, deixa bem claro que Braga já viveu dias melhores, já conheceu períodos de maior progresso e desenvolvimento, de maior arrojo no pensamento e na ação, de maior ambição como “player” com responsabilidades no desenho presente e futuro do Noroeste Peninsular - Norte de Portugal e Galiza.
Por mais prémios e comendas que Braga conquiste, uns mais reputados e insuspeitos, outros manifestamente menores e, até, de independência duvidosa, é hoje cada vez mais claro para todos que a imagem da Cidade promovida pelo atual Executivo Municipal está desfasada, está desconectada da realidade que os bracarenses enfrentam diariamente.
A percepção de Braga como cidade idílica, extraordinária e maravilhosa, é habilmente trabalhada e suportada pela divulgação de estatísticas, dados e informações (fidedignos?) que, por sua vez, conduzem a prémios e reconhecimentos que suscitam grande soberba, mas são, na sua maioria, verdadeiramente inúteis; ademais, a Braga vivida e não a Braga comunicada, o ser e não o parecer, a essência e não a aparência, a natureza crua, áspera e fria da realidade derrota todos os dias a percepção, através de uma miríade de problemas que afetam e prejudicam gravemente todos os Bracarenses.
Um dos pontos mais críticos é a mobilidade. Apesar de todos os dados e justificações apresentadas pela autarquia, o congestionamento nas ruas é uma realidade incontornável que nenhum número de comunicação/propaganda consegue disfarçar. Horas e horas perdidas e consumidas no trânsito para fazer pequenas distâncias, engarrafamentos infindáveis e atrasos constantes são património deste Executivo Municipal que não planeia a Cidade e que, a este nível, soma erros em cima de erros.
Na Educação, área central e fundamental, também a realidade vence a percepção. A Câmara enaltece as suas políticas educativas, mas as Escolas sob tutela Municipal apresentam problemas graves de manutenção, em alguns casos de segurança, ao mesmo tempo que há mais de 3000 crianças em lista de espera para Creches e o Executivo Municipal nada fez, nada faz para procurar mitigar este problema que prejudica e exaspera a vida de milhares de famílias.
Em vez de se focar apenas em números que visam conquistar reconhecimento externo, a Câmara de Braga tem, de uma vez por todas, de priorizar políticas centradas nas pessoas que efetivamente melhorem a qualidade de vida de todos.
É tempo de reconhecer que a verdadeira grandeza de uma cidade não está nos prémios que recebe, mas na satisfação e no bem-estar daqueles que a chamam de casa.
Felizmente, entre a realidade e a percepção, a realidade acaba sempre por se impor, acaba sempre por triunfar. É sempre e só uma questão de tempo e 2025 está já aí ao virar da esquina.