twitter

Presépio de Priscos – Um hino aos valores do Cristianismo

A 17.ª edição do Presépio ao Vivo de Priscos, cuja inauguração ocorreu na manhã do passado domingo, dia 10 de dezembro, é um acontecimento que ultrapassa largamente as fronteiras da freguesia, do concelho e do país. 

Tratando-se do maior presépio ao vivo da Europa é único e distintivo. Único e distintivo porque, ao contrário de muitos outros espalhados por diferentes regiões do país, espelha as causas e os valores fundamentais do Cristianismo.

Tendo sido edificado pela comunidade paroquial de S. Tiago de Priscos no ano de 2006, o Presépio tem vindo a crescer de forma sustentada e a envolver as freguesias circunvizinhas. A presente edição conta com 600 figurantes, distribuídos por 90 cenários, que nos levam a vivenciar com profundo realismo os tempos da vida de Jesus e, este ano, tem como grandes novidades, o acampamento militar e uma exposição sobre as diversas vertentes do tráfico de seres humanos.

O acampamento militar pretende ser uma espécie de museu remetendo-nos para a meditação dos custos da guerra. À semelhança dos campos de concentração nazis, ele pretende ser um local de reflexão e do reavivar da memória relativamente ao sofrimento e à dor causados pelos conflitos armados.

A exposição sobre o tráfico de seres humanos nas suas diferentes vertentes, laboral, sexual e outras formas de exploração teve como convidada especial uma jovem camaronesa, Nadege Ilick, sobrevivente de tráfico humano em África. A sua história de vida é arrepiante, até para as pessoas mais insensíveis, e remete-nos para a importância desta problemática pois, como bem lembra o Padre João Torres, o “nosso país tem revelado dificuldades nesta matéria”.

Além destas duas grandes novidades que nos convidam a refletir para dois problemas tão atuais, o Presépio de Priscos brinda os muitos milhares de visitantes que anualmente o percorrem com, entre muitas outras, quatro grandes representações onde se pode destacar – “O Casamento Judaico”, “Cortejo da Luz”, “O Julgamento” e o “Funeral” – para além de uma larga oferta de comidas e bebidas disponíveis nas casas das aldeias judias e romanas, também aí representadas. Como é evidente, o lugar de relevo é para a Família de Nazaré, Jesus, Maria e José, foco principal deste multifacetado cenário que nos transporta ao verdeiro significado do Natal, tão esquecido nos nossos dias. 

O Padre João Torres é o líder e o dinamizador deste grande projeto. Uma realidade que levou para os escaparates da comunicação social nacional e internacional uma pequena freguesia, que até há pouco apenas era conhecida pelo pudim, cuja receita é um legado do abade, Manuel Joaquim Rebelo.

O Padre João Torres é ainda um homem preocupado com as questões do nosso tempo e um apaixonado pelos problemas da reinserção social, sua preocupação central e permanente. É nesta conjuntura e com essa inquietação que o desassossega que tem envolvido reclusos da cadeia de Braga na construção do Presépio, demonstrando, deste modo, que é possível recuperar as pessoas acreditando nelas e dando-lhes a oportunidade de se reintegrarem na sociedade, através de um trabalho digno. Como sempre gosta de sublinhar, não nos devemos esquecer das vítimas. No entanto, também não podemos deixar de olhar os agressores e, sempre que possível, dar-lhes oportunidade para se regenerarem. As prisões deviam ser lugares de recuperação de onde os detidos saíssem melhores pessoas do que quando entraram. Porém, por vicissitudes várias, muitas vezes, isso não acontece.

O Presépio de Priscos, verdadeira lição de história do tempo da viagem pela vida de Jesus, acontecimento que mudou o destino da Humanidade, é bem o exemplo do que é possível fazer numa pequena coletividade quando há um dirigente e um trabalho comunitário irmanado nos mesmos objetivos. É o modelo perfeito de generosidade, de convívio, de amor e de solidariedade duma pequena população que pelo seu querer e férrea vontade alcançou indiscutível notoriedade.

J. M. Gonçalves de Oliveira

J. M. Gonçalves de Oliveira

12 dezembro 2023