Aproveitando a religiosidade da quadra). Ao contrário do que costumo, venho hoje aqui falar de um assunto mais ou menos ligado à Religião. Não tanto do Advento ou do Natal (ou dos Reis). Datas que, sobretudo quando eu era criança, vivia com intensidade; especialmente com a infalível consoada, numa aldeia da Vila da Feira, perto de Ovar, em casa dos meus tios-avós (e padrinhos) e em comunhão com muitos membros (tantos deles já falecidos) da minha vasta família do lado materno. Parte dela, acabada de regressar de Moçambique, fruto da miserável Descolonização. E que depois se voltou a dispersar, por Lisboa, Porto e Algarve, sobretudo. Venho antes falar é do Anjo da Guarda, com o devido respeito por quem é mais versado que eu, nesses assuntos da nossa religião tradicional.
Três canções sobre o Anjo da Guarda). Não é sobre o “I believe in angels”, dos ABBA. Nem sobre o grande criador de música ligeira, que foi o minhoto António Variações (e que compôs o muito seguro e emocionante “Eu tenho um Anjo”). É sobre uma outra, bem mais antiga, pertencente ao folclore popular da região da cidade de Madrid (o “Milagros del Ángel de la Guarda”). A qual, coligida por pelo grande cantor, divulgador, investigador e folclorista Joaquín Díaz, foi incluída no seu CD “Musica en la calle”; disco gravado em Setembro de 2003, em Urueña, Valladolid. E que inclui outros fantásticos temas, como “La divina peregrina”; “Coplas del tío Pingajo y la tía Fandanga”; “Trovos nuevos del 4 y del 3”; “Dime como te llamas y te diré como eres”; “Relación de los martírios del trigo”; “Responsorio de San Antonio”; e “Las faltas de los hombres”. Em 50 anos de gravações, o grande Díaz (com uma voz dotada do calor de um José Afonso) divulgou os inúmeros temas tradicionais de Leão, Castela, Astúrias e Mancha, principalmente. E inclusive, da tradição dos judeus safarditas da Espanha, que por lá também deixaram não poucas canções notáveis (“Abre este abajur”; “Esta montaña denfrente”; “A la una yo nací “; “Desde hoy, la mi madre”; “Árvoles yoran”; etc, etc.).
Os Anjos, uma influência do Zoroastrianismo). Assim como o livro dos Provérbios tem bastante influência egípcia (os 1º faraós viveram quase 2 mil anos antes de Moisés…), parece que os Anjos são uma transposição dos “Amesha Spentas” (uma espécie de “generais do Bem”, na luta vitoriosa mas difícil, do deus único, Ahura Mazda, contra Ahriman, o general do Mal). Isto, na velha religião persa (iraniana) do sacerdote Zaratustra e do livro Avesta; a religião do Fogo.
Em Cambridge, nos “finais do Cretácico”). Deixai-me só contar isto. Há muitos anos, já eu andava em Direito (mas sem vocação) fui melhorar o meu Inglês para uma escola privada, em Cambridge. Só 2 meses. Tinha um amigo belga e uma amiga arménia (que professava ainda a rara religião de Zaratustra!). Nem todos se podem gabar disto.
Reza assim então, a emocionante canção “Milagros del Ángel de la Guarda”). “Peresozo (preguiçoso) que estás en tu casa/y el tiempo te pasa sin querer rezar/ Ruega, ruega (roga) al Ángel de la Guarda/ que de estes peligros nos puede apartar/ Debemos rogar/ y pedir al Ángel de la G./ que por buen camino nos quiera (queira) guiar/(1) A la sombra de un árbol se hallaban (estavam)/ dos niños durmiendo com una mujer/ que sin duda (dúvida) seria su madre/y vino un lobo hambriento (esfomeado) y les quiso morder/pero al despertar/ se abrazaron la madre y seus hijos/ y al ángel bendito empiezan (começam) a llamar/ aparece a la sombra del árbol/ el ángel divino com gran resplendor/ Dice al lobo: retírate bestia/ que de este rebaño yo soy el pastor/ Aqui me teneis/ se llamais al Ángel de la G. / en vuestra defensa siempre me hallareis (achareis)/ (2) Cinco dias una pobre viuda/ dentro de su casa sin comer está / Siendo guapa y muy bien parecida/ le oferecen dinero para pecar/ No quiso ceder/ Aparece el Ángel de la G. / trayendo dinero y ya pudo comer/ (3) Rodeado de 4 ladrones/ un labrador solo por el campo va/ y volviendo hacia atrás la cabeza/ al ángel de la G. comienzó a llamar/ caso de admirar/ se volvieram en piedra de mármol que ni atrás ni alante pueden avanzar/ (4) Un anciano venia del monte com un haz (feixe) de leña sin poder andar/ suspirando decia el pobre hombre/ Ángel de la G. venidme a ayudar/ Fue de admiración/ vino el ángel y cargo la leña/ y la dejó dentro de su habitación/ (5) Un hombre cargado de família/ a falta de trabajo quizo ser ladrón/ Aparece el Ángel de la G. y en sus próprias manos le puso un doblón/ y le dijo así: no hagas mal a ninguno en la vida/ si estás en peligro me llamas a mí” . E como é usual, a melodia é empolgante. Boas Festas. E demos graças a Deus por não morarmos em Ghaza…
“Milagros del Ángel de la Guarda”
Eduardo Tomás Alves
12 dezembro 2023