Soam os primeiros sinais sobre a falência do JN do Porto. Esta cidade, que já perdeu jornais de referência nacional, casos do Comércio do Porto e Primeiro de Janeiro, parece não ser capaz de deitar a mão ao JN como ícone representativo desta orgulhosa cidade da invicta! Espanta-me pela inércia dos que deveriam deitar-lhe a mão em vez de o deixar extinguir. E espanta-me porque um jornal do tamanho do JN não é apenas a rentabilidade económico-financeira que determina a sua continuidade. É uma memória do tempo e uma referência de liberdade de expressão do presente. Espanta-me ver o alheamento dos que podem mantê-lo, deixá-lo afundar na fria análise de um qualquer balanço. Os atuais responsáveis pela sua existência não podem ser olhados como gestores de massa falida. Em vez de coveiros devem fechar campas em vez de abrir valas comuns. Compete aos empresários portuenses, tão orgulhosos da sua cidade, sempre empenhados em ver a sua urbe, e à Câmara Municipal do Porto não deixar que um dos símbolos desse orgulho se apague na mesquinhez do deve/haver. É preciso que os portuenses não queiram ser apenas grandes no fogo-de-artifício da passagem de ano. Sabemos que o jornal em papel passa momentos de concorrência tecnológica, mas sabemos também que há ainda uma geração de pessoas para quem o cheiro da tinta e papel do jornal diário lhes faz trazer o tempo para frente e não o deixa na recordação, na má recordação, de uma provável extinção. Os comerciantes devem comprá-lo, os serviços devem adquiri-lo, os cafés devem colocá-lo à frente da chávena do café para que seja lido com o bolo ou croissã da manhã. Isto seria uma boa campanha de angariação e congregação diária do JN . É deitar novamente a semente à terra que já deu frutos. Os portuenses devem comprá-lo antes de outra opção porque estão a ajudar um jornal, no fundo o seu jornal, que tem o rosto daquela nobreza de ser de um tripeiro... Em qualquer caso nunca se deve deixar falir um órgão de informação porque são as portas escancaradas para a verdade e a transparência. Se o que se sabe do JN, for indícios de declaração de falência, então é preciso que olhem atentamente para todos aqueles que serviram décadas a fio para que a orfandade se não transforme em ingratidão. Há trabalhadores cuja emprego no JN era a fonte do seu rendimento familiar. Não entrem na ingratidão nem passem certificados de pobreza a ninguém.