A semana que agora findou trouxe-nos, mais uma vez, más notícias para o universo dos que se preocupam e procuram soluções para o crescente afastamento dos cidadãos das urnas. A “maldita” abstenção, que nos tolda e enfraquece a Democracia por dentro, teve nos resultados da eleição para a Associação Académica da Universidade do Minho, mais um espinho cravado a sangue-frio nas expectativas que pudessem subsistir quanto à inversão penosa do afastamento dos estudantes de um ato que, em primeiro lugar, a eles diz diretamente respeito, mas que acaba por nos afetar a todos pelo seu carácter pandémico. Mais de 87 por cento destes 20 mil cidadãos viraram as costas às suas responsabilidades, são mais dois por cento que nas anteriores eleições das quais saiu vencedora, tal como agora, Margarida Isaías. As razões para esta absoluta disrupção residem, entre outras, no abuso instrumental da liberdade que temos para virarmos as costas ao dever de cumprir uma obrigação que devia ser natural. Sair fora da caixa à procura de soluções milagrosas é uma tentação e pode apaixonar politólogos, comentadores, jornalistas e professores, mas quem manda é quem tem o poder de usar a caneta ou, neste caso da UM, a possibilidade de usar a tecnologia para exercer o voto eletrónico – facilitador, pensava-se, de uma maior proximidade. Infelizmente, a realidade crua e nua, assenta em raízes que desobrigam estes jovens de um pensamento crítico sobre as suas próprias ações, omissões e responsabilidades. Não se admirem, caros estudantes, que um dia alguém decida votar por vocês diretamente. É o maior desejo dos populistas, extremistas, iliberais e autocratas que pululam nesta Europa. Esta semana, percebemos melhor a tendência persistente na Europa para alinhar com o discurso “maldito”. O Eurobarómetro acaba de revelar que apenas 57 por cento dos europeus mostram vontade de participar nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, descendo para pouco mais de 50 por cento quando falamos de Portugal. O quadro piora quando olhamos para os mais jovens lusos: 62 por cento dos que tem entre 15 e 24 anos, estão de costas viradas para o dia 9 de junho. Apesar do valor elevado, temos de perceber qual a percentagem específica do intervalo 18-24. Este instrumento de avaliação abrangeu mais de 26 mil inquéritos na Europa, revelando um outro dado interessante e contraditório. Com a idade, aumenta o número de interessados em participar ativamente na eleição dos seus representantes, mas só durante um período relativamente curto; o seja, a maturidade, a experiência de vida e a avaliação da realidade são sinónimo de uma maior consciência cívica com uma percentagem de 58 por cento, na faixa dos 25 aos 39 anos e volta a reduzir-se para 54 por cento entre os 40 e os 54 anos, quando o acumular da experiência na ida às urnas parece ser tingida por uma perceção negativa crescente. Muitos cidadãos têm apregoado que chegou a hora de tornar o voto obrigatório, uma medida que me parece, por princípio, simplista, castradora e violadora do elementar princípio da liberdade que acompanha o direito de cada um a escolher como se relaciona com os demais e com o Estado que o representa, mas que não deve ser afastada de todo. Bem diferente do carácter obrigatório é a Educação para o exercício político e para a causa publica. Como em casa, poucos são os que transmitem esta cultura de participação e de responsabilidade, tem sobrado para a escola, a função educadora para a cidadania. Sabendo das dificuldades do sistema e a própria natureza de uma relação escola-família-aluno nem sempre bem-sucedida, somos obrigados a refletir sobre a necessidade de encontrarmos soluções provavelmente mais musculadas e assertivas do que aquelas que tem sido desenvolvidas, com muito esforço, pelas comunidades educativas. Há dias, um jovem, contrariando a Liberdade de escolha, defendia que os mais jovens (entre os 18 e os 24 anos) deviam ser obrigados a ir às urnas como forma de contrariar o seu desinteresse. Podem até votar em branco ou anular o seu voto, mas ao menos experimentavam o sabor de lá ir. Faz sentido? Pelo menos teve o condão de me fazer pensar sobre o difícil equilíbrio entre direitos e deveres.