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O exemplo de Sá Carneiro e os dias de hoje

Ocorreram ontem quarenta e três anos do falecimento de Francisco Sá Carneiro nas condições trágicas que se conhecem, sendo o desconhecimento da origem desta fatalidade uma vergonha nacional para Portugal. 

Foi, assim, dura e subitamente interrompida a trajetória política de um dos maiores estadistas europeus com uma visão europeísta para Portugal, com a conservação das suas raízes atlânticas, de democracia desenvolvida, com progresso económico e social e onde o centro da política é a pessoa humana. 

O que mais recordo com muita admiração em Sá Carneiro era, além de uma personalidade fortíssima, um desígnio de vida dedicada ao seu país através do exercício da política como uma das atividades mais nobres exercidas em prol da sociedade.

A política, se exercida com sentido de dever, com comportamento moral e sempre apoiada em valores éticos, é uma das atividades mais grandiosas porque através dela pode-se mudar a vida das pessoas para melhor, melhorar a sua qualidade de vida e o seu futuro. 

Ao invés, consegue ser uma das piores atividades humanos se, pelo contrário, é exercida em proveito próprio ou de um grupo, impondo-se ditatorialmente à sociedade com desprezo pelas pessoas e visando apenas a manutenção do poder, sem imperativos éticos e morais de comportamento. 

Sá Carneiro só estava na politica se esta fosse um instrumento para transformar Portugal no sentido da melhoria da vida dos portugueses e sempre com apego a uma democracia plena. Se não o conseguisse fazer preferia abandonar e dedicar-se à sua vida, como o seu exemplo demonstrou. Ouvi várias vezes Sá Carneiro dizer que se recusava a aceitar que em democracia não se pudesse desenvolver Portugal, que em democracia o povo não pudesse cada vez viver melhor e que o nosso país fosse um lugar onde os jovens não teriam futuro e os idosos não teriam presente.

Vale a pena ouvir os discursos de Sá Carneiro, vale a pena ler a sua obra e o pensamento que nos deixou. 

Sá Carneiro dava a cara por aquilo que acreditava e lutava tenazmente, mas ao mesmo tempo com muita alegria e bom humor, por aquilo que entendia ser o melhor para Portugal. Percebe-se que ele se sentia muito bem na política e apreciava muito aquilo que fazia, porque o fazia com consciência de dedicação ao próximo e com um desprendimento total. 

Não hesitou em confrontar Ramalho Eanes que, com o apoio dos comunistas, de um grande parte do PS e dos militares mais retrógrados de Abril, insistiam em manter o Conselho da Revolução, órgão composto por estes, isento de representação democrática do povo e sem a aprovação do qual – pasme-se! – as leis aprovadas no Parlamento saído das eleições não poderiam ter os seus efeitos e vigência jurídica . 

O cunho essencialmente reformador do PSD, que está profundamente intricado no seu seio, no seu ADN, a Sá Carneiro se deve; deve-se às suas práticas, ensinamentos e doutrina.

Também por estes pensamento é que estas eleições são muito importantes.

Portugal não pode continuar assim, no estado em que está ao fim de 8 anos de governo de um partido que governou vinte e um anos nos últimos vinte e oito e durante os quais os três únicos Primeiros Ministros se demitiram e que traiu, este ano, a confiança do povo português que lhe confiou uma maioria absoluta.

Como pensava Sá Carneiro, não é admissível que em democracia as pessoas morram ou sofram horrores pelo atraso de consultas e operações, que os hospitais não tenham os cuidados de saúde que deveriam ter, que as carreiras de todos os agente da saúde não sejam respeitadas e remuneradas devidamente. 

Não é possível em democracia que as pessoas, apesar de terem salário vivam na rua, que os idosos não tenham dinheiro para os seus medicamentos, que os jovens – agora sem a bancarrota anterior – sejam obrigados a emigrar para terem condições de vida condignas e de acordo com os conhecimentos que adquiriram. 

Não é possível em democracia que os portugueses continuem com salários muito baixos, dos quais os impostos lhe retiram a maior parte e grande qualidade de vida e sem os portugueses poderem optar pelos serviços que pretendem, em vez de serem obrigados a aceitar o mau serviço que o estado lhe dá

Não é possível que em democracia Portugal seja ultrapassado por países que há poucos anos estavam muito atrás de Portugal.

Nâo é possível em democracia, como pensava Sá Carneiro, que os governantes não se dedicam de boa fé aos governados, que não exerçam os lugares que os portugueses lhes confiram com competência e imperativo moral e ético.

Assim, nestas eleições, o pensamento de Sá Carneiro é também importante para poder determinar as nossas escolhas como Nação, para Portugal ser um país desenvolvido onde cada cidadão possam alcançar a sua plena realização pessoal em sociedade.

Joaquim Barbosa

Joaquim Barbosa

6 dezembro 2023