Vivemos numa cidade linda! Rodeados de paisagens verdejantes, com nascentes de água a brotar em vários locais, chafarizes, fontanários e fontes. O Bom Jesus do Monte e o Sameiro dão um toque especial à vista a partir do centro da cidade. A história de uma cidade milenar, permite viagens ao passado de uma forma ímpar em todo o mundo.
Porém, a nossa cidade sofre de um problema cultural que parece ser impossível ultrapassar. Há a convicção enraizada na cultura das pessoas de que os passeios são um adorno que completam a paisagem da cidade. Servem de transição entre os edifícios e muros para as vias de circulação automóvel, como as ruas e as estradas. Porém, essa transição deve ter em conta a comodidade da circulação automóvel, pois é de carro que nós chegamos de um ponto a outro, certo?
Por exemplo, quando há uma entrada para garagem, o passeio deve rebaixar ao nível da rua ou da estrada, para que o automóvel não se veja obrigado a subir uma rampa e a passar por um desnivelamento.
Mas se a garagem se encontrar mais alta que a rua, então o passeio deve ser construído com a inclinação necessária para que o automóvel possa fazer a transição com o mínimo de esforço possível.
Se é o peão que precisa de mudar de passeio, deve procurar uma passadeira, como é evidente. Mas como a passadeira fica assinalada na rua, deve estar apenas pintada, e nunca deve ser subida para o nível do passeio, pois isso dificulta a circulação dos automóveis1.
Outra questão muito importante prende-se com a largura dos passeios. A largura é aquela que for possível desde que não interfira com a livre circulação dos automóveis. Se não for possível termos um passeio suficientemente largo para circularem cadeiras de rodas ou carrinhos de bebés, só temos de esperar que as pessoas que os utilizam escolham um percurso alternativo. Porque quem circula de automóvel é que não tem tempo a perder. O passeio até pode começar com 2 metros de largura, mas se for preciso ir afunilando até um palmo, pois que assim seja – os automóveis é que não podem sair prejudicados.
Também não é raro encontrarmos situações em que o passeio desaparece de repente, sem que a pessoa tenha condições de alterar o seu percurso para outro lado da via (se for esse o caso) sem colocar a sua vida em perigo.
Esta mentalidade está completamente errada. Os peões devem ter a primazia sobre os automóveis. Os passeios nunca podem ficar desnivelados para conforto dos carros, o conforto deve ser dado aos peões; nunca devem afunilar ou desaparecer. Mas quando estamos a falar do conforto dado aos carros impedir pessoas com mobilidade reduzida de se deslocarem, ou de os casais transportarem o seu bebé, a questão ganha outros contornos: os passeios devem permitir a mobilidade das pessoas, mesmo com prejuízo para os carros. Por isso, os passeios nunca devem ter uma largura inferior ao que é exigível por lei: 1,50 m; nem nunca devem apresentar uma inclinação superior a 2,5% (entre lados).
Em vários locais, é mais seguro o peão andar na rua do que no passeio: não tem desnivelamentos, não afunila e a inclinação é mínima.
Se alargarmos o passeio, os carros não podem cruzar-se? Paciência. Para nivelarmos o passeio para 2,5%, vamos ter de realizar obras na rua ou no edifício? Pois que seja. Os peões é que não podem colocar a sua vida em perigo. Algo que acontece constantemente.
Os nossos passeios foram historicamente construídos a pensar no trânsito automóvel. Algumas intervenções tendem a corrigir essas imperfeições, mas ainda há muitas outras que insistem em replicar estes problemas.
Vamos mudar mentalidades e vamos passar a pedir “Passeios para Peões”?
1 Felizmente, já conseguimos assistir a alterações neste aspecto, com algumas passadeiras niveladas pelo passeio.