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Só pecou por tardia

Perante um governo à deriva, minado por escândalos internos e sem soluções para os problemas mais prementes do país, o Presidente da República toma a decisão de convocar eleições legislativas antecipadas para dez de março; e, não sendo a melhor solução, é a preferível pois, assim, permite dar voz e poder aos portugueses para escolherem quem querem para governar o país. 

Já a decisão do Presidente só pecou por tardia, pois a situação económica e social do país, há muito exigia um volte face, basta pensarmos no episódio Galamba que o primeiro-ministro apoiou, afrontando o Presidente que desejava a sua demissão; e, a partir deste momento, o Presidente Marcelo passa a intervir mais e a apertar o cerco a António Costa, dado que a maioria absoluta socialista no Parlamento sempre serviu de escudo às demissões e más atuações da equipa governativa.

Agora, olhando para trás, mormente para os últimos governos socialistas, de que é exemplo maior o de José Sócrates, as suas inoperâncias e desvarios só trouxeram o descalabro e o retrocesso aos sistemas de Saúde, da Educação, da Segurança Social, da atuação Fiscal e da Justiça; e esta realidade põe a nu a fragilidade e ausência de respostas governativas às necessidades e exigências estruturais do país que reclama, há muito, profundas reformas. 

Pois bem, para além da bagunça que se instalou na atual governação, há já a algum tempo, que a promiscuidade entre política e negócios, as suspeitas de favorecimentos pessoais, o frequente uso da corrupção e do compadrio, os crimes de prevaricação e do tráfico de influências, a queda da economia e o aumento da dívida pública pediam uma tomada de posição, firme e corretiva, do Presidente da República; mas, a ausência de uma solução forte e segura, vinda da oposição, para solucionar a situação foi impedindo o Presidente de dissolver o Parlamento e convocar eleições. 

Todavia, pensando a sério e a frio, o recurso a eleições intercalares nem sempre tem sido a solução ideal, mormente quando o povo, bastante descrente e desmotivado com a política e os políticos, se tem abstido de ir às urnas; e, sobretudo, porque não vislumbra no horizonte imediato homens capazes de inverter o rumo à situação e entende que são sempre os mesmos e as mesmas políticas com que se confronta. 

Depois, se pensarmos bem, somos o país da União Europeia que mais tem tido maus governos, maus ministros, má governação e que mais vezes chama a Troika, porque incapazes somos de encontrar o caminho certo e justo para as carências e necessidades do povo; e esta realidade arrasta consigo a falência e incapacidade do sistema democrático que, embora já perto de comemorar as bodas de oiro, não tem sido capaz de crescer, de se afirmar e de trazer felicidade e bem-estar aos portugueses.

Então como mais grave e pior consequência de tudo isto, de toda esta apagada e vil tristeza (Camões), enfrentamos o aparecimento e crescimento de movimentos populistas, extremistas e demagógicos, quer da extrema-esquerda, quer da extrema direita; e a possibilidade e oportunidade de se instalarem no poder pode estar ao virar da esquina e, assim, pôr fim aos sonhos de liberdade, de igualdade, de fraternidade e de mais justiça social conquistados para o povo português pelo 25 de abril de 1974. 

Agora, a meu ver, os partidos políticos, para que se alcance o rumo seguro e certo para o país, precisam de uma profunda restruturação em termos ideológicos e de organização interna; e, mormente, no que diz respeito à escolha dos seus quadros e na formação política que lhes deve ser dada que muito longe andam da eficiência e ponderabilidade desejada, bem como no que respeita à competência, eficácia, seriedade e princípios éticas necessários para quem aconselha, dirige e governa. 

Porque, doutro modo, a continuarmos com as formações partidárias que temos, não iremos muito longe e cada vez recuamos mais face aos restantes parceiros europeus; e óbvio se torna que o país precisa para seu governo, como de pão para boca, de homens descomprometidos, competentes, eticamente intocáveis, tecnicamente experientes e sabedores e com provadas experiências de trabalho e de vida, ou seja de verdadeiros estadistas. 

Então, até de hoje a oito. 

Dinis Salgado

Dinis Salgado

22 novembro 2023