Quem prescinde?

 

 

 

 

 Quem, nos dias de hoje, prescinde do telemóvel, da televisão, do computador ou do avião, a par de todo o conforto das máquinas várias que facilitam a vida dos nossos dias? Suponho que apenas os ascetas. Mas todo este conforto tem um preço: a natureza. Esta é altamente poluída pelos fumos, os rios encharcados de despejos tóxicos, os ares tomados pela carburação de CO2 da aviação, os terrenos esgotados pela super produção, os mares com plásticos que largam nas suas, dantes limpas, resíduos vários e enredam os nossos peixes. Tudo isto tem modificado a nossa vida e modificado a nossa atmosfera, nossa e de outros a animais, nossos coexistentes terrenos, que se extinguem ou diminuem a reprodução até à extinção. Então temos aqui um dilema: ou defendemos a natureza, ou defendemos o nossos conforto. As fábricas ou oficinas poderão deixar de produzir? Os campos poderão produzir a abundância que hoje temos, sem pesticidas? Poderemos deixar de voar como o fazemos hoje sem quaisquer malefícios? Poderemos deixar de desflorestar, prescindindo das madeiras que fazem as nossas mobílias, comportas, estruturas várias? Não, não podemos. Então estaremos a viver os últimos dias desta sociedade que é a nossa? Sem ser profeta, olho para o futuro como um beco donde se entra e não se sai, não porque se não saiba, mas porque se não quer sair. A água escasseia à medida dos gastos desnecessários, mas principalmente porque se torna necessário irrigar plantações extensas e sempre sedentas. Vamos dizer à América, à Europa, à China , à Índia, ao Japão, fechem as vossas indústrias porque estão a matar o ar que respiramos? Quem prescinde da abundância e conforto tecnológico de hoje? Quem quer voltar ao artesanato, substituindo a industrialização? Não há uma única solução, a não ser tomando medidas radicais, ainda utópicas: criando laboratorialmente as matérias-primas de que a humanidade se habituou a usar e usufruir. É a produção artificial que deve substituir a produção natural, tornando esta segura, quanto a possíveis efeitos secundários. Quem prescinde desta industrialização? Se repararmos para o nosso vestuário, não temos uma peça de roupa, um simples botão ou qualquer calçado que não tenha gastado muitas tintas nos seus coloridos, peso tamanho ou feitio. E agora então para salvar a natureza vamos vestir-nos de burel ou peles de animais? Claro que não mas, então, não sejamos hipócritas, não vale atirar as pedras do nosso quintal e jogá-las para o do vizinho para limparmos a nossa responsabilidade. O mesmo fez Pilatos e não é, ainda hoje, um exemplo de caráter.

 

 

Paulo Fafe

Paulo Fafe

20 novembro 2023