A hostilidade entre muçulmanos e judeus não é uma inevitabilidade histórica. Em muitos aspetos, muçulmanos e judeus estão mais próximos do que em relação aos cristãos. Com efeito, conviveram bem ao longo dos séculos não só em Portugal e Espanha, mas também em Istambul e nos Balcãs. O profundo antagonismo entre muçulmanos e judeus existe apenas desde o séc. XX e, note-se, nada tem a ver com a religião, mas sim com o conflito político no Médio Oriente entre Israelitas e Palestinianos.
A relação entre judeus e muçulmanos não poderá melhorar sem se resolver este conflito.
Para melhor compreensão, recordemos a origem do conflito.
A 29 de novembro de 1967, uma maioria sólida das Nações Unidas (com os EUA e a URSS) votou a favor da divisão da Palestina num Estado Judaico e num Estado Árabe, com fronteiras bem definidas, uma união económica entre os dois Estados, e a internacionalização de Jerusalém, administrada pelas Nações Unidas.
Os judeus que nesta altura possuíam 10% do território palestiniano iriam receber 55%, cerca de 15.000 km2; a população árabe, que, com 1.3 milhões de habitantes, era quase duas vezes maior, iria receber 11.000 km2. As principais potências da Liga Árabe (os Palestinianos ainda não tinham uma representação, nem organização política, pois haviam sido dominados, desde o séc. XVI, pelo Império Otomano e, desde 1.ª Guerra Mundial, pelos Britânicos) rejeitaram esta divisão injusta. Desde então não mais houve paz na região, com guerras sucessivas.
Nas suas reivindicações, os palestinianos exigem a retirada do exército judaico para as posições anteriores às ocupações de 1967, a destruição do muro, o fim do cerco de Gaza, o desmantelamento de todo o sistema de colonatos israelitas, o reconhecimento do povo palestiniano a um Estado viável, livre e independente, com a capital em Jerusalém-Leste, lado a lado com o Estado de Israel.
A União Europeia poderia e deveria ter um papel importante a cumprir nesta caminhada pela busca da paz do Médio Oriente, mas pouco ou nada tem feito.
Seria importante aumentar a sua cooperação com os países árabes, obtendo deles predisposição para o diálogo, com vista a ajudar israelitas e palestinianos a resolver a questão dos dois Estados.
A situação no Médio Oriente dependerá também, no plano religioso, da colaboração entre cristãos, muçulmanos e judeus na promoção da paz, da justiça e dos valores espirituais e morais.
Importa recordar o pensamento do teólogo Hans Kung nesta matéria:
“Não há paz entre as nações sem paz entre as religiões; Não há paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões; Não há diálogo entre as religiões sem pesquisa de base nas religiões”.
Uma solução para o conflito israelo-palestiniano só será possível com base num plano conclusivo e justo, que exija concessões de ambas as partes e que prometa ganhos para os dois lados. Pode acontecer que um número crescente de israelitas e palestinianos se aperceba de que têm sido enganados pela demagogia quando os seus políticos lhes prometem a paz através de uma política de “mão de ferro”, sem refletir no modo como a capacidade de sofrer dos oprimidos é a maior e mais persistente do que a dos opressores.
O acordo relativamente ao problema da soberania sobre Jerusalém é, sem dúvida, um dos pontos das negociações mais difíceis de alcançar, em virtude de, através da história, ter sido uma cidade ocupada por judeus, cristãos e muçulmanos e ser considerada santa para as três religiões.
Importa, pois, ultrapassar o estatuto mítico de Jerusalém para uma discussão racional sobre direitos e sobre a soberania. Dar a Jerusalém o estatuto de cidade Internacional, como estabeleceu a ONU aquando da criação do Estado de Israel, seria o mais conveniente à comunidade mundial. Há quem, sensatamente, defenda para a Cidade Velha de Jerusalém (com relevo político e religioso) duas soberanias e duas bandeiras, mas uma única administração conjunta.
Não é com a força das armas e manobras táticas que se chegará a resultado eficaz.