Não sei quem, na guerra da faixa de Gaza, está a demonstrar que o que é de mais exagera e perde a razão da sua ação. É o caso de Israel quando tende a castigar os horrores do Hamas com os horrores que está a cometer. Baralham-se-me os contornos do justo e injusto, e estes dois sentimentos tendem a diluírem-se na mesma imagem. Quando o carrasco se assemelha ao condenado, é porque um e outro se igualam na mesma culpa. Foi , a meu ver, o que perdeu Israel com as violências da sua guerra e o que ganhou o Hamas ganhando espaços de vítima onde dantes apenas era culpado. Neste momento criou-se uma paridade o que dantes parecia distinto. Quem partiu atrás e agora está a par, é porque o que ia à frente se deixou agarrar; o culpado, em conceito mundial, neste momento, “venha o diabo e escolha”. É impossível olhar para a faixa de Gaza, sem evocarmos o ataque terrorista do Hamas: é uma repulsa veemente; mas ver chorar quem, sem ter qualquer culpa da beligerância, neste caso o povo palestino, fica aberto à piedade que é vizinha do perdão. Mas, logo nos diz a razão que o ato assassino do Hamas merece punição como medida dissuasora. Mas no meio de tanto joio há trigo limpo sem sabermos como o ir agasalhar. Não há uma boa ou mesmo razoável solução, nem mesmo poderá resolver este conflito a autodeterminação da Palestina porque entre israelitas e palestinianos existe um conceito de posse territorial e religioso que é porta sempre fechada ao entendimento. E, neste nó que ninguém desata, as crianças vão morrendo sem saber ou compreender por que razão lhes foi negado o direito à vida. Israel tem todo o direito de retaliar mas todo o castigo que supera a culpa é vingança torpe e só produz revoltados. O Hamas não calculou o grau de retaliação, deixando-se embalar no veneno corrosivo duma vingança ácida de décadas. Mas então aquelas cabeças não funcionam, nem sequer têm memória da guerra dos seis dias do passado recente, não sabiam do poderio bélico de Israel? Despertaram o monstro e não avaliaram as consequências dos seus atos, não pensaram que arrastariam para o olho do furacão milhões de palestinianos que estavam à sua guarda na faixa de Gaza?! Os dirigentes do Hamas, de duas uma, ou são inconscientes, ou são levianos. Apesar disto tudo, é demais tudo aquilo que se passa na Faixa de Gaza. O exagero que transforma o culpado em vítima, é a melhor testemunha de defesa do réu. Demais a mais, é de mais.