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E assim vai o meu triste país!

 

 

 


Há chavões políticos que já não suporto ouvir e ler. Um deles é: “ser forte com os fracos e fraco com os fortes”. Este “argumento”, politicamente realista, discricionário, típico dos tíbios que se armam em “poderosos” não pode integrar-se num contexto de uma sociedade democrática e responsável. Transparente e livre. Se se fosse seguir esta linha de pensamento, onde ficaria a igualdade de tratamento dos cidadãos e de oportunidades? 

 


1 - Esta atitude medrosa, de favorecimento e nada condizente com uma realidade democrática ocidental revela um diagnostico de excepção de privilégios aos lobbies que usam os seus “dotes” para condicionar, à sua maneira, o poder. E a verdade é que condicionam mesmo, quando os seus interesses estão em jogo. As contrapartidas oferecidas até podem ser ridículas como almoços e jantares. Fico pasmado como há gente dos poderes que inquina a sua consciência moral e ética e a sua imagem por almoços e jantares. Coisa tão poucochinha. Claro que as dúvidas destes “negócios” superam de longe a narrativa da coisa pouca.

 


2 - O jogo democrático neste país jogado nas altas esferas desenvolve-se num terreno escorregadio e com buracos escondidos, autênticas armadilhas, para se apanhar os políticos frágeis, pois há muitos interesses e conveniências suficientes que contaminam a normalidade de uma democracia plena. De um lado, o poder dos lobbistas tenta ajustar-se às fragilidades do poder político e à soberba de uns tantos que “vendem” a sua dignidade por um prato de lentilhas. E o curioso é que estes “poderosos” de meia tigela não aprenderam nada com o passado recente, nem querem perceber que o destapamento destas “negociatas” pode ser activado a qualquer momento. Depois, tudo se sabe e os seus nomes entram num pântano demasiado lodoso e de vergonha se a tiverem. Não sei o que lhes passa pela cabeça para se deixarem embalar por meia dúzia de tostões, claro, em termos figurativos. Será que a boa consciência e a integridade não valem muitíssimo mais do que uns almoços ou jantares? Umas viagens ou uns cheques?

 


3 - Nunca é demais falar do momento político nacional pela sua tremenda sarilhada e pelas grandes dificuldades que estão bem presentes no quotidiano das pessoas e das instituições. Já não chegavam a inflação, a contração da economia, o estado comatoso da Saúde, o pandemónio da Educação, as manifestações de rua, a falta de habitações, as greves para definir o estado da nação. Os casos e casinhos ajudaram o enfeite e cansaram este governo desde o início da legislatura. Agora, o país foi “prendado” e surpreendido (?) com mais uma bronca de peso: a demissão do primeiro-ministro. Os motivos ainda não foram explicados, mas não é difícil de inferir que há “coisas” muito graves em volta deste insólito problema político. Outras figuras de topo já estão na calha do expositor social e a prestar contas à Justiça. 

 


4 - Não se pode assistir a este triste e lamentável espectáculo “democrático” de braços cruzados ou com um encolher de ombros. Há que falar, opinar, chatear, exigir a esta gente que está no poder para ser mais decente, mais correcta, mais íntegra, porque estas “razões nojentas” - a corrupção, o favorecimento, as negociatas - vão destruindo a democracia e fragilizar a vida das pessoas. Neste ponto, as palavras do presidente do Supremo Tribunal de Justiça são claras e evidentes: “A Justiça não é uma prioridade para o poder político”. E continua: “A corrupção no país não é uma percepção, mas uma certeza”. E remata: “Sabemos que os casos de corrupção têm aumentado ...”. Quem fala assim é o mais alto magistrado da Justiça nacional. E quem assim fala é porque tem conhecimento destas vergonhas da democracia.

 


5 - Os momentos políticos criados por o governo actual são tristes. O país continua em crise consolidada e com tendências fortes para se agravar num contexto económico europeu nada favorável. A contração (recessão) marca a cadência económica e social e as guerras no Médio Oriente e na Ucrânia complicam ainda mais a situação internacional. Vive-se fundamentalmente numa confusão de valores que tornam o ambiente social muito crispado, triste e atónito.

Armindo Oliveira

Armindo Oliveira

12 novembro 2023