Qualquer pessoa que pretenda vender um bem procura fazer um bom negócio ou, pelo menos, o melhor negócio possível. A transacção tem que valer a pena, de outra forma não tem sentido. O vendedor espera um retorno, desejavelmente, majorado relativamente ao valor de aquisição, a não ser que a venda seja motivada por dificuldades financeiras do proprietário, caso em que este estará disponível para inscrever no negócio algum desconto, mas não quererá perder no negócio. Operações com eventual prejuízo, ainda assim com o objectivo de obtenção de liquidez imprescindível, só em casos pontuais de extrema debilidade financeira. Entre particulares é assim, a realidade sempre a conheci assim e admito que sempre tenha sido assim. Estranhamente, ou talvez não, quando é o Estado a negociar, normalmente não procede assim. Incompreensivelmente, o vendedor é mais desprendido, menos pretensioso, sem a ambição de um particular. Há negócios em que um representante respeita a vontade do proprietário, por este lhe ter dado instruções, mas na coisa pública o proprietário, como se limita a deixar o seu voto genérico e cego na urna eleitoral e não assina uma procuração, não tem controlo no negócio. Aliás, como no voto com que o eleitor elege o representante não estão descritas as acções que aquele aceita, o representante procede, inúmeras vezes, sem sentido de responsabilidade, como se gerisse algo alheio. Se o negócio não for bom, o pior que lhe pode acontecer é que o eleitor não volte a elegê-lo na volta seguinte. Negociar o património de outros com procuração aberta é fácil, não tem grandes riscos e não provoca insónias!
Os últimos governos socialistas, mas não só, têm feito vários negócios, qual deles o melhor! Estranhamente, sempre com prejuízos. A este respeito, poderia mencionar todos os que abalaram o património do Estado, genericamente desastrosos, mas fico-me pelos dois que estão em curso e que estão a dar que falar: o da TAP e o da Efacec. Depois de Passos Coelho ter privatizado a companhia aérea portuguesa, rendido ao descalabro financeiro do país e às exigências da Troika chamada por José Sócrates, António Costa considerou a empresa como sendo estratégica e nacionalizou-a, tendo que indemnizar os privados que a detinham. Fruto de vários condicionalismos, entre os quais a pandemia, o seu Governo injectou então mais de três mil milhões de euros na empresa e agora que esta começa a dar lucro decidiu que será de novo privatizada. Lá se foi a causa estratégica para o país, lá se vai a possibilidade da companhia ressarcir o valor nela injectado e o erário público deixará de receber cerca de quatrocentos milhões em impostos futuros. Mais, o Governo definiu o preço como último critério de venda, pelo que a empresa pode ser vendida por um valor irrisório, hipoteticamente zero, isto sem contar com os milhares de milhões de euros negativos de outras empresas do grupo TAP que estarão fora do caderno de encargos. O caso da Efacec, que não terei espaço para desenvolver aqui e agora, é semelhante. O mesmo Governo de António Costa nacionalizou a empresa, injectou lá uma pipa de massa (quatrocentos milhões) e agora vai vendê-la por tuta e meia ou nem isso (quinze milhões). Que grande negócio!
São números assustadores de investimentos deitados fora e de encargos que ficam para o mexilhão pagar! Estranhamente, o Governo paga para vender, por nossa conta. A que ponto chegou a irresponsabilidade dos nossos governantes! Há quem chame a estas operações de crimes financeiros! É, por isso, que os detentores de automóveis mais antigos vão ter de compensar as perdas que os gestores públicos e os governantes permitiram que acontecessem! E é, por isso, que o Governo diz que não há dinheiro para aumentar os salários dos médicos, dos enfermeiros, dos professores e de outros profissionais! Estranhos negócios à parte, o Governo não tem tido arte, é prepotente e já não parece ter emenda possível.