Viriato Soromenho-Marques assegura que «somos o que fazemos ao mundo». Sucede que, desgraçadamente, estamos a fazer muito mal ao mundo.
A tecnologia transformou o mundo. Em muitos aspectos, melhorou a vida no mundo. Mas o seu uso desregulado está a ameaçar o presente – e o futuro – do mundo.
Chegamos a um ponto em que – já Albert Einstein o notara – «se tornou chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade».
Deus, na aurora dos tempos, depositou a natureza nas mãos do homem. Era de esperar que lhe dispensássemos cuidado e atenção (cf. Gén 1, 28-30). Acontece que, em vez de «atenção à natureza», estamos a cometer «atentados em série contra a natureza».
Quem incendeia as florestas e as matas? Quem polui o ar que respiramos? Quem suja os jardins? Quem conspurca os rios? Quem abate as árvores? Quem desurbaniza as cidades?
Somos nós que atentamos contra nós. Em vez do (indeclinável) «ecocivismo», estamos a abeirar-nos de um arrasador «ecocídio».
É com a nossa conivência que a humanidade se vai tornando sujeito da sua própria autodestruição. O terrorismo não cessa de nos apavorar. Um cataclismo nuclear deixou de ser fantasia, para passar a ser um intimidante pesadelo.
O «Armagedon» já esteve mais longe? «O que julgamos saber – avisou Gaston Bachelard – ofusca largamente o que deveríamos saber».
É que – compreendeu Müller-Fahrenholz – «as actuais tendências "ecocidas" estão a esgotar a sensibilidade das nossas almas, insensibilizando-nos».
Ultimamente, entretanto, esta pantanosa insensibilidade tem sido sacudida por aparatosos protestos. Compreende-se a motivação, mas não nos podemos rever na forma de actuação.
Interromper sessões oficiais para atirar tinta aos participantes alcança um febril efeito mediático. Mas ajuda a resolver os problemas?
Aos «atentados» contra a natureza deverá responder-se com «atintados» contra supostos responsáveis? O ser humano também não faz parte da natureza?
E será que estes activistas nunca agrediram o ambiente? Nunca poluíram o ar? Nunca terão usado automóveis ou andado de avião?
Caso para citar o Mestre: «Quem estiver sem pecado, que atire a primeira pedra» (Jo 8, 7).
É sabido que o mundo não está bem. Mas não é desta forma que vai ficar melhor.
Decididamente, é urgente «polir» – e não «poluir» mais – a natureza humana. A agressividade veiculada por estes movimentos deixa-nos apreensivos.
Acredito que é possível ser discordante e, ao mesmo tempo, afável.
Os «gestos de força» só agravam as situações. Há que investir na «força de certos gestos»: na cortesia, por exemplo.
A Ian Maclaren é atribuída uma sábia (e muito pertinente) recomendação: «Sejamos gentis, pois todas as pessoas que encontramos estão a travar uma difícil batalha».
Só unidos conseguiremos vencer a tormenta que nos sufoca. Ainda iremos a tempo?