A página 11 do Diário do Minho de 16 de outubro, último, foi inteiramente dedicada àquela que é conhecida por todos os bracarenses como ‘Rodovia’. E como leitor interessado no que ao historial do património da nossa cidade diz respeito, fiquei maravilhado com esse exímio trabalho. Ousando dele me socorrer, a fim de tecer algumas considerações à execução dessa obra de vulto e às que, nestes últimos tempos, ficaram por fazer na nossa bimilenária Bracara Augusta.
Dizer que a via em causa se deveu a um “Plano Urbanístico de Alargamento, Extensão e Embelezamento de Braga”, projetado em 1941. Cujo trajeto se estende da Praça do Condestável (PDC), ao sopé do Bom Jesus do Monte. Coisa que nos dias de hoje é mais ou menos em cima do joelho. Ou seja, pouco se planifica. Basta mudar o Plano Diretor Municipal e satisfazem-se interesses e amizades, em prejuízo da cidade.
Atender que a ‘Rodovia’ foi construída em menos tempo do que o equivalente a dois mandatos do atual Edil, R. Rio. Nessa altura, era Presidente da Câmara Municipal de Braga (CMB) o saudoso Comendador, António Maria Santos da Cunha, (CSC), 1949/1961.O qual levou a efeito outras grandes obras. Como, por exemplo: o Jardim de Santa Bárbara (1955), o Mercado Municipal (1955), a atual Escola Carlos Amarante (1958) (que frequentei em 1960) e o Liceu Feminino, D. Maria II, concluído em 1964.
Acrescentar que existe na cidade um conjunto de elementos que não os podemos dissociar da vida e obra do CSC, cujos arquivos falam por si. Porém, agora que o Estádio Municipal da Pedreira está em saldo, não posso deixar de referir o belíssimo e granítico Estádio da Ponte. Inaugurado em ‘28 de maio de 1950’, cujo nome – devido à queda da ditadura – passou a chamar-se ‘1º. de maio’ e que se não lhe deitarem a mão ficará em vias de ruir.
Referir que no caderno de encargos da implantação da “Rodovia”, constavam as tão preciosas zonas verdes de contenção. Prova-o o arvoredo (de nível superior ao atual) que ladeia as suas bermas, com duas amplas faixas de rodagem e separador central, bem como generosos passeios. Sendo digno de registo o casario de bom gosto de vertente social de um lado, e o do foro privado do outro – nos dois lados da via –, desde a PDC, em Maximinos, à Avenida da Liberdade. Sendo esta, outra valiosa joia da coroa bracarense, agora, a ser atirada para uma sarrabulhada de autocarros, automóveis, motas, bicicletas, trotinetas, peões, só faltando o metro-bus.
Afirmar que não me sinto constrangido se disser que se as práticas usadas pelo CSC, na CMB, tivessem sido seguidas a nossa cidade seria, no presente, um bom exemplo de harmonia urbanística. Digo-o, porque cheguei a ter uma conversa com ele, num evento de foro privado, a esse respeito e não só. Era um bracarense aguerrido. Cioso de enriquecer a sua cidade. Sempre disposto a bater o pé ao poder central, quanto a benefícios para Braga. O que só era tolerado a gente do seu calibre. Era do tempo do Estado Novo? Quero lá saber. Se formos por essa ordem de ideias muito pouco de belo e grandioso restaria em Portugal.
Pensem o que quiserem, mas que foi uma obra “genial” deixada à nossa urbe a apensar no futuro, lá isso foi. Prova- o a imagem, captada em 1950, ilustrada no artigo, em que se vê um solitário automóvel a transitar pela desafogada ‘Rodovia’. Já no presente, embora descaraterizada, são aos milhares as viaturas que a percorrem. Imagine-se, pois, o que seria hoje a nossa cidade desprovida deste importante legado. Razão pela qual a Cidade dos Arcebispos optou, em boa hora, por erigir uma estátua ao CSC em plena rotunda, onde se inicia a via.
Enfim, sem estruturas rodoviárias alternativas às atuais para desviar o tráfego automóvel do centro da cidade ao que se dá mais primazia? Aos supermercados! Braga deve ser uma das cidades do país que mais catedrais de consumo deve ter por hectare. No entanto, honra seja feita ao dinamismo empresarial privado, bem patente na rapidez da sua implantação.