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Que mundo é este?!

Quero escrever. Não sabendo em que mote pegar, escolho uma meada de assuntos! No Ribatejo ainda está entre nós um Amigo, actualmente com noventa e cinco anos, que publicamente se assume como agnóstico; para ele, Cristo terá existido como fruto de relações humanas. Com base nesta linha, virá o parágrafo seguinte. 

Na revista Sábado da semana 19 a 25 de Outubro 2023 foi publicada uma extensa entrevista feita a José Rodrigues dos Santos, não só mas também sobre O Segredo de Espinosa, seu recente romance. Dela transcrevo, a propósito de agnosticismo, «Sábº: Dizia numa entrevista à SÁBADO em 2016, que a sua relação com a fé era “como São Tomé, ver para crer”. É a prevalência do humanismo ou a factualidade jornalística que o faz pensar assim?” | J.R.S.: Eu diria que é mais uma forma de racionalismo. Sou agnóstico no sentido em que acredito nas provas que existem. Se me fala do Deus da Bíblia, ou do Corão, isso nunca a ciência encontrou, e acho que a ciência é a chave que abre os enigmas do universo. Agora, nós também analisando as descobertas da ciência, começamos a perceber que o universo pode ser muito mais misterioso e que a ciência passa ao lado». [Nota: optei por uma maior transcrição com o intuito de ser mais fiel].

Continuando a desenrolar a meada, penso na guerra entre Israel e a Palestina, demasiadamente complexa para a minha simples natureza humana. Tanto quanto, só vejo e ouço que cada uma das partes, bem como os respectivos apoiantes, tem a sua verdade. Os ataques e as defesas sucedem-se a um ritmo alucinante. Este mundo está perdido! As armas não se calam; destroem edifícios e cidades; matam inocentes. No seu Pontificado, já com mais de dez anos, Francisco fez 44 viagens fora de Itália, que o levaram a quatro continentes. Em muitas delas foi ao encontro dos inocentes e desprotegidos. A última levou-o a Marselha, onde, num momento de recolhimento com os líderes religiosos, junto a um memorial, recordou os marinheiros e migrantes desaparecidos no mar. “Demasiadas pessoas, fugindo de conflitos, pobreza e calamidades ambientais, encontram entre as ondas do Mediterrâneo a definitiva recusa à sua busca dum futuro melhor. E, assim, este mar esplêndido tornou-se um enorme cemitério, onde muitos irmãos e irmãs são privados até do direito de ter um túmulo, acabando sepultada apenas a dignidade humana”, referiu o Papa. Não me adianto sobre este tema.

Numa perspectiva diferente, reparo que a “Perseguição religiosa se agrava em mais de 60 países”, sendo África e Ásia os territórios mais críticos (cf. texto de Elisabete Carvalho na revista Mensageiro do Coração de Jesus Novembro de 2023, publicada pelo Secretariado Nacional do Apostolado da Oração.). Sinto-me demasiado minúsculo para mais dizer sobre estes assuntos. 

Esta meada de assuntos leva-me agora – a mim que não sou “formado” em política – ao livro Revolução, de Hugo Gonçalves, editado este mês de Outubro pela Companhia das Letras. «Revolução acompanha a família Storm,

do desmoronar do império ao despertar da democracia, ao longo dos rocambolescos, violentos e excessivos meses do PREC» [da Sinopse, na contracapa]. Quis a fortuna que estejamos à porta do 50.º aniversário da Revolução do 25 de Abril de 1974. A sua História nunca será objectivamente feita, penso. Além do mais, porque, de uma ponta à outra, cada um a fará segundo a sua cor política ou pessoal. Os primeiros meses e anos foram o suceder de golpes e contra-golpes, cada um com “sua cor e paladar”. Foram como que um assalto ao poder. Acho que foi uma revolução com aspecto(s) feio(s), que cheirou bem. Antes da liberdade surgiu a libertinagem. Dito por alguém cujo nome não fixei, devem ser celebrados os momentos que nos unem, e não os fracturantes.

Bernardino Luís Costa

Bernardino Luís Costa

28 outubro 2023