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Atenção aos pobres 1

1. Acabo de ler a mensagem do Papa Francisco para o VII Dia Mundial dos Pobres que se celebra em 19 de novembro. Recorda a enternecedora história de Tobit, narrada no livro bíblico de Tobias, e tem por tema o conselho dado pelo pai ao filho: «nunca afastes de algum pobre o teu olhar».

Há muitas espécies de pobreza e, consequentemente, muitas espécies de pobres. Estou persuadido de que, ao promover a celebração do Dia Mundial dos Pobres, foi intenção do Papa Francisco alertar para a situação em que muitas pessoas se encontram devido à carência de bens materiais.

Há um ditado popular segundo o qual ninguém é pobre senão de juízo. Discordo. Há pobres que o são porque não conseguem dispor do necessário para poderem viver com dignidade. Uma pobreza, anos atrás inimaginável, é, hoje, a de uma família que não consegue ter em casa um computador para os filhos poderem estudar e fazer os deveres escolares.

Mantenho, todavia, a convicção de que grandes pobres são, também, aquelas pessoas que só têm dinheiro.

 


2. No citado conselho de Tobit o Papa sublinha a expressão «de algum pobre», e acrescenta: «de todo o pobre. Cada um deles é nosso próximo. Não importa a cor da pele, a condição social, a proveniência...».

O pobre é uma pessoa. É um ser humano como qualquer outro.

«É fácil, escreve o Papa, cair na retórica, quando se fala dos pobres. Tentação insidiosa é também parar nas estatísticas e nos números. Os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma. São irmãos e irmãs com os seus valores e defeitos, como todos, e é importante estabelecer uma relação pessoal com cada um deles».

«Interessar-se pelos pobres não se esgota em esmolas apressadas; pede para restabelecer as justas relações interpessoais que foram afetadas pela pobreza».

 


3. O Papa recomenda o contacto pessoal com a pessoa do pobre. Escreve: «Delegar a outros é fácil; oferecer dinheiro para que outros pratiquem a caridade é um gesto generoso; envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão».

Por isso diz também: «Damos graças ao Senhor porque há tantos homens e mulheres que vivem a dedicação aos pobres e excluídos e a partilha com eles; pessoas de todas as idades e condições sociais que praticam a hospitalidade e se empenham junto daqueles que se encontram em situações de marginalização e sofrimento.

Não são super-homens, mas ‘vizinhos de casa’ que encontramos cada dia e que, no silêncio, se fazem pobres com os pobres. Não se limitam a dar qualquer coisa: escutam, dialogam, procuram compreender a situação e as suas causas, para dar conselhos adequados e indicações justas. Estão atentos tanto à necessidade material como à espiritual, ou seja, à promoção integral da pessoa».

Além de dar, pode ser necessário ensinar a usar bem o que se recebe.

 


4. A atenção aos pobres exige se procure remediar as suas necessidades concretas. Para isso é necessário conhecê-lo, o que não acontece se quem dá se limita a depositar uma importância em dinheiro na mão de quem a estendeu. Pode ser a forma mais cómoda e mais egoísta de ajudar. Há o dever de dar e de saber dar.

Não se ajuda o pobre libertando o guarda-fatos de peças usadas a fim de poder ter espaço para comprar novas. Mandando o pobre ir a sua casa buscar o que se não quer ter o trabalho de ir deitar ao lixo.

«Somos chamados, escreve o Papa, a ir ao encontro de todo o pobre e de todo o tipo de pobreza, sacudindo de nós mesmos a indiferença e a naturalidade com que defendemos um bem-estar ilusório».

Prosseguirei com esta reflexão na próxima semana, se Deus quiser.

Silva Araújo

Silva Araújo

19 outubro 2023