Úrsula Von der leyen e Christine Lagarde, não são as únicas protagonistas de uma semana difícil para a Democracia europeia, marcada, desde logo, pela divulgação dos resultados de uma sondagem que nos coloca perante números assustadores daquela que é uma tendência entre os jovens para a aceitação de um regime autocrático a que acresce um Presidente da República, mais assustado que o costume, com as debilidades do regime. Quem o ouviu há um ano em Braga a falar sobre os mecanismos de defesa da Democracia e o ouve agora, percebe que deixou de acreditar: “ilusória e perigosa a ideia de que a Democracia e a Liberdade podem ser irreversíveis”. As suas palavras são bem-vindas. É de esperar que se repitam por muitos fóruns em que participe para que a mobilização da sociedade civil ganhe escala e nos ajude nas próximas eleições europeias a dar uma resposta clara aos partidos extremistas e populistas. Da presidente da Comissão Europeia, percebeu-se que o seu balanço do estado da União, está longe da realidade vivida no terreno com a crise que ainda só vai no adro e para a qual a única solução, do ponto de vista da senhora “en garde, en garde – une mauvaise nouvelle arrive”, é apertar o cinto, apesar da crise ter origem numa guerra. Do balanço feito em Bruxelas, nem uma palavra para o sofrimento das cidadãs e dos cidadãos; ou seja, caldo entornado q.b. para que em Junho do próximo ano, a Europa esteja à beira de enfrentar o abismo. Acresce a esta dura realidade, engordada artificialmente pelas decisões do BCE, o crescente apoio a líderes autocráticos entre os 18 e os 35 anos revelado pela Open Society Foudations numa sondagem feita em diferentes países do globo. Falamos de 42 por cento dos jovens que aceitariam uma liderança militar e de 35 por cento, uma liderança civil que ignorasse o parlamento e as eleições. Como chegamos até aqui? Onde falhamos? Como é possível que, em diferentes latitudes, haja respostas com tão elevada percentagem de jovens a tomarem partido por uma solução antagónica das amplas liberdades de que usufruem. Estamos a falar de respostas de 36 mil jovens de 30 países, numa faixa etária decisiva na formação das lideranças. Não é de espantar que os inquiridos mais velhos não alinhem nesta ideia irresponsável, fruto da sua experiência e sobretudo da Memória herdada. Poderíamos começar por aqui para perceber a importância de confrontarmos esta geração “instantânea” com os medos dos seus pais e avós. Eventualmente encontraremos a passividade e o deixa andar como posturas coincidentes nos diferentes países. Em Portugal, que se saiba, ainda ninguém se atreveu a tocar e a remexer na memória como está a acontecer no distrito de Braga, desde Maio de 2022. Não o fazemos por acaso. E estes números apenas relevam e dão força à expressão da homenagem às e aos Democratas desta região. Por outro lado, a perceção dos jovens neste inquérito demonstra a sua fraca participação na vida política. O ensaio do investigador Vicente Ferreira da Silva “Que querem os Portugueses, Democracia ou Ditadura?”, toca no essencial: “No que respeita à democracia e ao seu papel como cidadãos, os portugueses são uma espécie de dissonância cognitiva, pois exigem mudanças quando eles próprios não estão disponíveis para mudar. Infelizmente, o povo português pensa que as ilusões que lhe são vendidas não são sua responsabilidade e, cada vez mais, alheia-se da realidade e da decisão política. Há muito que assim acontece, sendo também há muito que se confunde política com partidarismo. Como é a regência do comodismo que nos caracteriza, uma parte significativa de nós continuará sentada no sofá a apontar o dedo a quem aparece na televisão”. É contra este imobilismo e dificuldade acrescida de mobilizar os jovens que nos devemos capacitar, custe o que custar, demore o tempo que demorar. Nada fazer é irresponsabilidade, assobiar para o lado é suicídio. Ignorar é um ataque à Democracia.