1. O Padre Serafim da Silva Ferreira despediu-se no passado dia nove dos paroquianos de S. Jorge de Selho (Pevidém) e S. Miguel do Paraíso onde serviu durante quarenta e oito anos. Tem oitenta e seis anos e não atravessa um bom momento de saúde.
Quase contemporâneo do Padre Serafim (fui ordenado sacerdote dois anos mais cedo) sou seu vizinho, na medida em que Gondar, onde nasci e conservo a casa que foi dos meus Pais, confina com S. Jorge de Selho.
À distância tenho acompanhado, e admirado, o exercício da atividade pastoral do Padre Serafim. Simples e discreto, tem sido um bom pastor. É pena que a idade e a saúde o tenham obrigado a encostar. Ou melhor: a exercer o sacerdócio de outra forma, passando a viver ao lado da igreja-edifício mas sempre na Igreja integrado.
Numa altura em que nós, os padres, estamos debaixo de fogo, é bom que se realce o trabalho discreto mas eficiente de sacerdotes como o padre Serafim.
Limitações a que estou sujeito impediram-me de estar presente na hora da despedida. Mas quero prestar-lhe pública homenagem. Saiu pela porta grande, com a consciência do dever cumprido.
2. Embora Dom José Cordeiro tenha encontrado substituto, o Padre Paulo Alexandre Gonçalves Neiva a quem saúdo e desejo o melhor, a despedida do Padre Serafim não deixa de ser motivo para que, cristãos conscientes, reflitamos sobre o grave problema da escassez de sacerdotes.
Este ano, na nossa arquidiocese, que eu saiba, foram ordenados quatro novos sacerdotes e já faleceram oito. E a generalidade dos que permanecem no ativo, além do específico da sua missão, ainda têm a seu cargo tarefas que podem e devem ser feitas por leigos.
A confiança na Providência não nos dispensa de fazermos o que podemos e devemos. Temo-lo feito?
Tem-se recorrido à união de paróquias. É uma forma de resolver (ou esconder?) o problema. Mas, desculpem a expressão, não deixa de ser um remedeio.
3. A Igreja é santa e pecadora. Não é apenas santa mas também não é exclusivamente pecadora. É injusto olhar só para os pecados, talvez avolumando-os, e fechar os olhos à muita dedicação de um sem número de pessoas que servem a Igreja.
De apregoar os pecados, até à exaustão, se encarregam os inimigos da Igreja. Lamento haver, na mesma Igreja, responsáveis que, cobarde ou ingenuamente, alinhem na campanha. Não terão mais nada de que falar?
A justiça exige se coloquem nos dois pratos da balança as virtudes e os defeitos. É um erro acamaradar com quem, por cegueira ideológica, deixa vazio o prato das virtudes.
A campanha anti-Igreja a que se tem assistido não deixa de contribuir para que os jovens não sintam grande atração pela carreira sacerdotal.
4. A escassez de sacerdotes é um alerta ao comodismo de tantos que se julgam cristãos só porque os levaram ao batismo e à primeira comunhão.
Dá-me vontade de gritar: leigos, sede leigos! Ocupai o lugar que por direito vos pertence e de que o clericalismo vos afastou. Dentro e fora do espaço eclesial.
No espaço eclesial. Se é verdade haver ministérios na Igreja que apenas os sacerdotes podem exercer, muitas tarefas há que podem e devem ser desempenhadas por leigos. O padre, sozinho, pode muito pouco.
Fora do espaço eclesial. É próprio do estado dos leigos viver no meio do mundo e das ocupações seculares. São chamados a viver como cristãos nos diversos setores da atividade humana: na família, na escola, no trabalho, no desporto, na política, no associativismo…
5. Que os seguidores de Jesus se assumam como tal em todas as circunstâncias.
Releiam-se os Atos dos Apóstolos. Estudem-se a constituição Lumen Gentium e o decreto Apostolicam Actuositatem, do Vaticano II. Veja-se na Igreja o Povo de Deus e não somente os clérigos.