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Ucrânia: até quando esta guerra?

A Guerra da Ucrânia parece que não encontra caminhos que a conduzam à paz, certamente desejada por tanta gente – milhões de pessoas – que foi deslocada das suas casas e vive em condições difíceis e precárias.

 


 Há um réu que está condenado por este estado de coisas. E ele é um ditador, certamente ajudado por seus simpatizantes, que se enganou claramente quando invadiu um país independente, fundamentado na sua capacidade bélica para realizar uma “operação militar especial”, sem grandes consequências e de curta duração. 

 


 Não perguntou aos cidadãos da terra invadida – nem aos seus – se concordavam com a sua acção. E muito menos se a desejavam. Senhor absoluto das ideias com que retém o poder, iniciou a incursão, acostumado como antigo membro da polícia política do regime comunista soviético a dispor e a dominar a liberdade dos cidadãos sem jamais os consultar. Nos primeiros tempos, avançou pelo território ucraniano com facilidade e sem contar com muita oposição. No entanto, pouco depois começou a receber, por parte do país invadido, uma resposta cerrada de confronto, que lhe dizimou, segundo consta até agora, à volta de trezentas mil baixas entre os seus soldados. O luto entrou nas famílias russas dum modo inesperado e violento. E, como é óbvio, também entre as dos ucranianos.

 


 Todo este panorama prova que uma concepção na mente dum ditador pode ser um erro e um engano, como na de qualquer outra pessoa. Não é plausível que Putin, ao imaginar a sua operação especial na Ucrânia, supusesse que iria fazer sofrer tanto os seus jovens e o povo que comanda. Tudo seria rapidamente bem sucedido e sem grandes consequências. Um ano e três meses depois, deve ter a hombridade suficiente para reconhecer que não só não foi prudente nem objectivo, como as suas ideias não bateram certo. Cometeu um erro de cálculo, pura e simplesmente. Contudo, quem mantém entre mãos um poder absoluto, não cede perante a evidência. Certamente que é capaz de lamentar a quantidade considerável de lares de seus compatriotas enlutados, não por morte natural de um dos seus membros (por exemplo, por velhice ou alguma doença incurável), mas por participarem numa “operação especial” militar, que não deixou continuar a sua vida normal aos milhares de jovens da juventude russa que já faleceram no conflito que ele provocou.

 


 Se o ditador do Kremlim tivesse o mínimo de seriedade, deveria reconhecer este seu erro. Que é muito mais complexo do que a simplicidade com que decidiu levar a cabo a invasão. Em primeiro lugar, porque não provocou uma mera “operação militar especial”, mas uma verdadeira guerra. Em segundo lugar, porque, ingenuamente, não calculou bem a qualidade e o patriotismo do povo ucraniano. E ainda, porque pensava que os países ocidentais, que apesar dos seus muito defeitos e dificuldades, vivem em democracia, ficassem indiferentes e olhassem para a contenda com um encolher de ombros, sem auxiliar a resistência bélica ucraniana.

 


 Um ditador, mesmo sendo genial, julga que a sua condição de mando não se engana, esquecendo o velho ditado latino: “Errare humanum est”. Claro que quando o seu pensamento sai frustrado, tudo faz para encobrir essa realidade. E Putin não teve outro remédio senão o de montar, ao contrário das suas previsões, uma guerra dura, morosa, teimando em vencê-la, com os custos humanos que já pagou o povo russo e o descontentamento também notado em sectores militares que o vão apoiando, embora com críticas e dúvidas sobre a necessidade desta invasão e a incerteza do seu futuro.

 


 É ineludível que tem havido protestos dentro do território russo, que são ocultados ao máximo pelos apoiantes desta guerra. Mas revelam um descontentamento e uma incompreensão pela sua realidade. E, não esqueçamos também, que muitos jovens do país invasor, quando Putin decretou um recrutamento considerável de novos soldados, fugiu ou não regressou ao território pátrio, se se encontrava no estrangeiro.

Pe. Rui Rosas da Silva

Pe. Rui Rosas da Silva

31 maio 2023