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País pobre a fingir de rico

Não fossem sucessivos descomandos, incompetências, desnorteamentos e falcatruas de toda a ordem e seríamos um grande país, uma segunda Suíça como sói dizer-se; e, sobretudo, a megalomania reinante em mentes ditas iluminadas de certos governantes, agentes políticos, gestores públicos e empresários que, apesar de sermos um país pobre, de chapéu na mão e de mão estendida, agem como se fossem donos e senhores de um país rico, opulento mesmo.

É certo que temos sol, água, boas condições climáticas, um mar imenso, praias a perder de vista e gente trabalhadora e assaz competente – fatores imprescindíveis à obtenção de sucesso económico e social; mas, há sempre um mas, tem-nos faltado governantes e dirigentes políticos apostados na defesa e promoção dos valores humanos fundamentais como sejam a redução das desigualdades, o combate à corrupção, às fugas ao fisco, às lavagens de dinheiro, à roubalheira, pondo em prática uma resiliência comunitária conducente ao desenvolvimento de ações de bem-servir os outros, em vez de se servirem a si próprios e aos amigos. 

E, assim, é nesta lógica que se sucedem as asneiras em catadupa, como, por exemplo, o concurso europeu ou internacional para a organização de eventos desportivos (campeonato europeu de 2004, final da Champions e campeonato do mundo), onde gastamos o que não tínhamos; e, entretanto, lemos na imprensa diária, não vai há muito tempo, que os moradores de um bairro de Lisboa vivem em casas onde a água ressume pelas paredes, o frio penetra pelas janelas e portas e, até, os próprios cobertores nas camas exalam humidade. 

Pois bem, esta dura realidade do país real traz a lume a evidência política de termos governantes que consentem no seu seio, por um lado, o esbanjamento e a opulência e por outro lado a precariedade e a miséria; e, obviamente, convivem, diária e placidamente, com a injustiça social, o egoísmo, a desigualdade, o nepotismo, a miséria. 

E, como se isto não bastasse, segundo as estatísticas, estamos em primeiro lugar, a nível mundial, no consumo de álcool e, a nível europeu na sexta posição como utilizadores do telemóvel, gastadores inveterados com mulheres e vida airada e o 5.º país com maior sinistralidade nas estradas nacionais, apenas com a Roménia, Letónia, Polónia e Hungria à nossa frente; e isto leva-nos à conclusão óbvia de que, afinal, só somos bons na mediocridade e na superficialidade, deixando para trás a Habitação, a Saúde, a Educação, a Justiça, a Segurança Social, a Cultura e a luta contra a desbragada corrupção e as enormes desigualdades e injustiças sociais. 

Pois é, os governos dos últimos tempos e demais órgãos de soberania sérias responsabilidades têm em manter este estado de coisas e criar na cabeça do povo, crédulo, pacífico e conformado, a ilusão de que é rico, pode gastar à tripa forra e endividar-se à custa de empréstimos bancários fáceis que, depois, acaba por não poder pagar; e, deste modo, fugindo às dificuldades, os governantes iludem as questões e governam de improviso, por encomenda, mais para as sondagens e demagogia do que para a realidade nacional. 

Agora, caso é para nos interrogarmos: que governação é esta que tanto prega e diz que presa a igualdade, a solidariedade, o emprego, o progresso económico e a liberdade e se esquece que ninguém pode ser verdadeiramente livre sem que lhe sejam garantidos os seus direitos fundamentais; e a lamentarmos que, afinal, o nosso maior problema passa pela falta de uma classe política e dirigente solidária, competente, justa e capaz de governar com transparência, rigor, honestidade e verdade. 

Ademais, os problemas do país e do povo são já muito velhos e arrastam-se langorosamente de governação em governação, fazendo crer que precisamos urgentemente de homens e mulheres com resiliência e capacidade de porem o país a andar para a frente; e, consequentemente, de acabarem com a pobreza e a miséria endémica que tem avassalado as camadas mais débeis da população. 

Então, até de hoje a oito.

Dinis Salgado

Dinis Salgado

31 maio 2023