Uma palavra dita? Apupos. Um monumento construído? Contestação. Uma decisão tomada? Protestos. Uma iniciativa suscitada? Desconfianças.
Aparece uma ideia péssima? Tem polémica. Surge uma proposta excelente? Polémica tem.
Hoje nada se faz sem polémica, sem ruído, sem controvérsia e até sem conflito.
Ainda que não se saiba do que se trata, desde que surja alguma coisa, há que estar «contra».
Pode tratar-se da verdade mais evidente ou da afirmação mais consensual. Pode acontecer que nem se apure o que está em causa. O impulso imediato é para estar «contra».
Até o en«contro» corre o risco de se transformar, cada vez mais, em en«contra». Não está a tornar-se vulgar, mesmo entre familiares e amigos, estarmos mais «contra» os outros do que «com» os outros?
O encarniçamento individualista e a vertigem relativista parecem não consentir a sobrevivência do mais perene e inclusive do mais óbvio.
No meio de tanta subjectividade, que sobrará de objectivo?
Ressalvando o intencional revestimento hiperbólico, «pouco faltará – como alertou Chesterton – para sermos censurados se dissermos que 2 e 2 são 4, que as vacas têm chifres, que um triângulo tem três lados ou que a relva é verde».
Tudo tende a ser avaliado numa espécie de «leilão», em que as maiorias de circunstância tudo deliberam ou tudo aniquilam. Mesmo o mais notório ou o mais sagrado.
Dá a impressão de cada um de nós habita em polémica, não querendo experienciar qualquer outro género de «morada».
E, no limite, a liberdade com que muitos polemizam é liminarmente rejeitada a quem pensa – e faz – diferente.
Apavorados com esta pressão, muitos dos que dissentem e não se revêem nesta «ondulação pan-contestatária» vão fazendo cedências.
Calam muito daquilo em que acreditam, alteram muito daquilo que promovem, no fundo fazem tudo para se «igualizar». Mas nem assim atraem os (esperados) aplausos.
Cada esforço de aproximação não esconjura o distanciamento, a sobranceria e até o desdém.
Os requisitos deixaram de ser o conhecimento e o respeito. Basta uma boa apresentação, um teclado ao pé da mão e um rodapé apelativo na televisão.
Alternativa? Não desistir de ninguém, mas também não acobertar o melhor do que nos foi entregue.
Permaneçamos na verdade. Ainda que uma só pessoa afirmasse que 2 e 2 são 4, a maioria manter-se-ia no erro.
O mais belo certificado de amor pelos nossos irmãos é oferecer-lhes a verdade.
Pode suceder que não cheguem a acreditar nela. Mas, pelo menos, nunca poderão alegar que ninguém lhes falou dela!