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O berço está carunchoso

Os sucessivos casos de governação e não apenas este caso do ministro Galamba, coloca perante nós todos, eleitores, uma estrada cheia de buracos. Lá apareceu mais uma corrupção com os autarcas de  Vila Nova de Gaia! Quando ouvimos a rádio, vemos a televisão ou folheamos os jornais diários, perguntamos sempre: quem são os senhores que se seguem? E lá vão aparecendo um aqui outro acolá e crescem espontaneamente na seara que se queria limpa de ervas daninhas: os clubes mais notórios do país, o Benfica, Porto, Sporting e outros peixes miúdos não ficarão isentos nem escondidos da PJ; também entram na contabilidade desta peste. A  ASAE encontra prevaricadores por todos os lados; esperemos que não seja míope para alguns. Isto parece que está tudo podre. Este clima infecioso está a fazer uma moral, isto é, a enformar uma sociedade. Já ouvi alguém dizer: “se lá estivesse fazia o mesmo”; um outro comentou, “só não rouba quem não pode”. É treta de comadre? Não, é espelho de comportamento moral porque nos mostra que há uma predisposição social para o roubo, falcatruas e abusos de poder em cada indivíduo que se expressa assim. Expressa-se assim porque assim lhe vai na alma. Esta sociedade que se está a formar à boleia da trapaça, inclina-se perigosamente para a aceitação da imoralidade. A honestidade é o berço da honradez, ora, a continuarmos assim, estamos a formar uma sociedade carunchosa desde o berço, com perigo evidente de se tornar podre de princípios e ausente de sentimentos de honra e respeito pelo alheio. Sinto o plano inclinado cada vez mais escorregadio; e uma sociedade que não guarde e resguarde os seus valores sociais, que são igualmente valores individuais, deixa de ser uma sociedade e passa a ser apenas e só um conjunto de indivíduos. É preciso castigar os que erram, absolvê-los é criar o princípio de que o erro compensa. O castigo não cura a ferida mas não deixa abrir outras. Já o temos aqui dito: foram abusos semelhantes a estes, a que estamos a assistir diariamente, que acabou com a primeira república, onde o ministro nomeava por compadrio e a autarquia era pai, padrinho, amigo do correligionário. Já o disse e di-lo-ei até à exaustão para que se lembrem todos de que com a derrota da democracia pela complacência leva-nos à formação de uma sociedade sem princípios de honra, de probidade e respeitos humanos. Um dia aparecerá um indivíduo que pregue o respeito por Deus, o amor pela Pátria e a veneração pela família e aí teremos um ditador. De quem é a culpa? Do berço carunchoso.

Paulo Fafe

Paulo Fafe

29 maio 2023