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Definição e “Prozac”

“Cada vez mais as democracias morrem às mãos dos políticos”. (Daniel Ziblatt. Cientista político).

 Andamos há 50 anos nesta constante alternância entre os dois maiores partidos políticos portugueses, num ritmo tal em que se um deles balança para a esquerda, o outro mais parece nem saber para que lado o fazer, ora se virando para um lado ora para o outro. 

 Sim, falo do Partido Social Democrata (PSD) a quem pergunto: será que vai continuar a ser o eterno “indefinido” quanto à posição ideológica, se é à esquerda ou à direita? É que o centro, a meu ver, é o refúgio dos meias tintas, isto é, daqueles que querem agradar a gregos e a troianos para que tudo fique na mesma. 

 É para a governação atual que o PSD se tem de virar com ousadia, sem rodriguinhos e com a máxima frontalidade. Com um discurso mais atrativo, sério, liberto, assertivo, confiável e sem ter a necessidade de andar sempre a olhar pelo espelho retrovisor do tempo pelo qual vê Sá Carneiro, Cavaco Silva e Passos Coelho (PC). Vultos sociais-democratas de referência, mas que merecem ter alguém que os honre e, até, as supere em firmeza de caráter. 

 Ademais, precisa é de apelar com toda a veemência à queda dos governantes delinquentes deste Governo incompetente do Partido Socialista (PS). Por muito menos o fez M. Soares a PC, como forma e ambição do PS chegar à gestão do país. E não ter qualquer receio do que toda a fauna esquerdista possa vir dizer. 

 Agora, se Luís Montenegro (LM) decidir a apostar na ambiguidade e no amorfismo discursivo, ocultando ao país as suas ideias, propostas e medidas diferentes às do seu principal opositor; nem mostrar bater-se por elas, duvido que capte mais intenções de voto. A não ser que o poder lhe caia ao colo. Isto, porque aquilo que o povo quer ver tratadas são as doenças da Saúde, Educação, Justiça e Habitação, bem como dos debilitados serviços públicos.

 Mormente, não fazer como Rui Rio que passou o tempo todo a piscar o olho ao António Costa (AC), quando sabia bem da colagem deste à esquerda radical. E, por isso, sem hipótese repetir a pancada do Bloco Central. Pena é que o atual líder do PSD só agora tenha despertado para criticar os imbróglios em que este Governo está metido, faz tempo. Só que deverá de deixar de se sentir desconfortável e titubeante por ter ao seu lado partidos que quase fazem aquilo que o dele sempre deveria ter feito: oposição. 

 Depois, sou da opinião de que LM deverá saber separar o trigo do joio dentro do seu próprio partido. Ou seja, livrar-se de certas caras desonestas, envolvidas em esquemas, ao nível da do caso “tutti frutti”. É que mais do mesmo já chega. Isto é, basta de tanta porcaria a cheirar mal que tresanda não só ao Ministério Público, como ao país.

 Mas mais. Há um constrangimento de que LM se tem de libertar: o de se mostrar incomodado com quem está do mesmo lado da barricada. Assim não sendo, acontece ficar no ar a dúvida sobre a tese defendida, há dias, pelo histórico fundador do PSD, dr. Pinto Balsemão, de que “o PSD é e sempre foi um partido do centro-esquerda”. Dito, a que ninguém do partido – por receio de colagem à direita – deu troco.

 De outra coisa sei. É que LM parece nada ter aprendido com as matreirices de AC quando, em 2015, se aliou aos radicais de esquerda, arrumando com PC. Lembro-me bem das cobras e lagartos que se soltaram à formação dessa inusitada Geringonça. Porém viria a prevalecer, até hoje, a tese de AC. Contando com a preciosa ajuda do Presidente da República. Não só ao constituir-se colaborador da gestão socialista, como achando o PSD impreparado. 

 Ora, depois de tanta mixórdia política, corrupção, escândalos a rodos, jobs for de boys, familygate, forrobodó com dinheiros públicos, etc., é de lamentar que LM só com este atómico “Galambagate” tenha saído da letargia em que esteve mergulhado. Desta feita, do que a família PSD e o povo esperam é que vá tomando algum “Prozac”, se mantenha desperto, ativo e sem vacilar.

Narciso Mendes

Narciso Mendes

29 maio 2023