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Braga, maio de eventos

O movimento das smart cities, que usam as TIC para melhorar a vida numa cidade, revelando-se numa transformação gradual, mas profunda, da infraestrutura das cidades, teve um alcance mediático tão extensivo que, de repente, não há cidade em Portugal que não reivindique ser inteligente. Recai o opróbrio sobre a cidade que não é smart, parece que nenhum autarca que se recandidate ganha eleições se não assegurar esse título. Implementa-se um sistema de rega automática dos jardins municipais e logo a cidade passa a smart. Compreendo e respeito o fenómeno de escala mundial, com mestrado de tese “smart cities – o advento de um novo modelo de governo local”. Mas o conceito de smart cities demora a alavancar para um nível que não seja meramente técnico.

Quando nos afastamos do determinismo tecnológico, uma visão humanística leva-nos para noções de felicidade e bem-estar. O que querem as pessoas das cidades? A resposta mais consensual é a mais óbvia: querem ser felizes! Na edição de 2018 da Happy Cities Summit em Andhra Pradesh, foram anunciados os pilares de felicidade a servir de estrutura para a Declaração das Cidades Felizes: ambiente, governação, economia e meios de subsistência, cultura e comunidade, bem-estar físico e mental.

Uma cidade que proporciona eventos culturais e desportivos de acesso comunitário, contribuindo para o bem-estar físico e mental dos seus habitantes, está na primeira linha para se assumir como uma happy citie. Neste mês de maio Braga foi, nessa medida, uma cidade feliz, embora totalmente só eliminando as bolsas de pobreza e exclusão, que infelizmente existem em todas as cidades do mundo.

Destaco três organizações pela sua relevância: o Festival Internacional de Órgão, a Braga Romana e a Rampa da Falperra, merecendo ainda referência não um evento em si, mas a conquista do SCBraga do acesso à 3ª eliminatória da liga dos campeões.

O Hino da Champions, que ouvido no Estado Municipal é particularmente emotivo, faz lembrar o prelúdio do “Te Deum” - conhecido como Hino da Eurovisão - de Charpentier, em pleno barroco.  Situo o Barroco entre Monteverdi (considerando Jacopo Peri, autor das duas primeira óperas, Dafne (cerca de 1597) e Eurídice (1600) como do período de  transição entre os estilos renascentista e barroco) e Mozart.  Os cerca de dois minutos iniciais da obra Vespro della Beata Vergine de Claudio fazem-nos compreender a razão de toda a música, o “cum Sanctis tuis in aeternum”: quia pius es” do Requiem de Amadeus, encerra a vida terrena e promete a vida eterna, assim como anuncia o novo reino musical do romantismo. O Festival Internacional de Órgão de Braga é um exemplo mundial de festivais do género. Este ano associou a dança, que feliz combinação! Dos expoentes Bach e Haendel até à premier portuguesa do checo Vanhal, para terminar com Padre Manuel Faria, referência patriarcal da Revista da Música Sacra, que saudosamente recordo pelos rebuçados que me oferecia na infância.
“Nasceu “Augusta” para a eternidade! Bracara de sangue, elevou-se magnífica sob o olhar terreno de um império que a proclamou Augusta, como se obra divina se tratasse…soberana das terras da Callaecia…A nossa cidade!”. Assim se apresenta a Braga Romana em síntese feliz. As centenas de milhares de pessoas que a visitam são o precioso testemunho da sua importância e significado. É impressionante a quantidade e qualidade de atividades que a alimentam.

E a mítica Rampa da Falperra do coração de todos os bracarenses, o maior e melhor evento desportivo permanentemente realizado no concelho. Costumo escrever um artigo sobre a prova, como presidente da MAG do CAM, clube organizador, este ano a agenda não o permitiu. Foi especial a solidariedade com o povo ucraniano. A Rampa não precisa de apresentações, todas a conhecemos, todos a adoramos. Cometerei a inconfidência de adiantar que a organização recebeu rasgados elogios da FIA, FPAK e da generalidade dos intervenientes, mais uns degraus subidos na imagem, que já está muito alta. Conheço o incansável trabalho do Dr Rogério Peixoto e da sua equipa, a cidade agradece.

De comum os eventos têm o seu caráter de regularidade, aproveitando o que a cidade tem de melhor, os extraordinários órgãos da igreja, a bimilenaridade da urbe, o traçado natural da falperra e um clube de excelência. Felicito a Arquidiocese, o Município e o CAM. Parabéns aos bracarenses, a todos nós.

Carlos Vilas Boas

Carlos Vilas Boas

25 maio 2023