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A anormalidade normal

Têm estado a ocorrer situações, no nosso país, que, diria, numa situação normal, poderiam considerar-se... anormais. No entanto, parece que tudo está invertido, e as pessoas, pacificamente, vão desvalorizando acontecimentos, que, dada a sua gravidade, já deviam ter acionado sinais luminosos de alerta.

Na sequência das últimas buscas efetuadas pelos serviços de justiça, aos três maiores clubes em Portugal, algo que já aconteceu, várias vezes, a estes e a outros clubes, a perceção de muita gente é a de que “não vai dar em nada”, pois os poderosos do futebol são praticamente intocáveis. 

E o povo vai assobiando para o ar, como se isto não fosse a prova provada do desgoverno e do perigo que enfrentamos, enquanto Sociedade.

A minha convicção é a de que a Justiça vai funcionar, e a impunidade de determinadas pessoas está a acabar. São extremamente graves os crimes que estão a ser investigados (fraude e branqueamento de capitais, envolvendo contratos e transferência de jogadores), e que potencialmente prejudicaram de forma séria os clubes e o Estado, em muitos milhões de Euros. 

Outro crime que está a ser investigado, e que eu considero muito grave, sobretudo por ser prática corrente na maioria dos clubes, é o pagamento a agentes por transferências em que estes não tiveram qualquer interferência (no negócio).

Ficamos a saber, igualmente, que, depois das buscas em 2020, choveram denúncias dos principais clubes, no Ministério Público e na Autoridade Tributária, contra os rivais diretos. As denúncias entregues em Lisboa visaram o FC Porto, o SC Braga e outros clubes com relações próximas. 

Por sua vez, no Porto, surgiram denúncias sobre o SL Benfica e clubes próximos dos diretores e empresários ligados a este clube. Enfim, o pântano do costume.

Na mesma medida surpreendente é o polvo que está montado. Desde as direções dos clubes, até aos advogados que os aconselham, passando pelos agentes desportivos, tudo funciona como uma máquina trituradora que vai destruindo por completo a credibilidade do desporto-rei em Portugal.

Por fim, verificamos que a resposta dos clubes e das pessoas visadas é invariavelmente a mesma: «manifestamos total disponibilidade e abertura para colaborar com as entidades, como sempre aconteceu até aqui». 

Dito isto, só nos resta concluir que tudo isto é coisa normal no meio de tanta anormalidade.

João Gomes

João Gomes

25 maio 2023