Portugal vive há demasiado tempo mergulhado numa estabilidade precária e insegura!
As sucessivas baixas no atual governo de António Costa, a par das múltiplas turbulências causadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão da TAP, fragilizam-no e retiram-lhe credibilidade.
A agravar esta periclitante situação, a recente recusa do Primeiro-ministro em aceitar a demissão do ministro das infraestruturas, João Galamba, depois das vergonhosas trapalhadas passadas naquele ministério, quebrou a colaboração institucional daquele com o Presidente da República, com imprevisíveis consequências.
No último sábado, Aníbal Cavaco Silva, no encerramento do 3.º Encontro dos Autarcas Sociais Democratas, fez um discurso verdadeiramente demolidor não só para António Costa, como também para as sucessivas governações do Partido Socialista.
O ex-Presidente da República, numa análise diagnóstica que não se cingiu unicamente ao atual governo, expôs as debilidades de António Costa e da sua equipa, utilizando uma linguagem cruel e incisiva, não se coibindo de o apelidar de incompetente, mentiroso e responsável por uma governação desastrosa.
Não deixando de puxar por Luís Montenegro e dando-lhe o guião para chegar a líder de um futuro governo, Aníbal Cavaco Silva caucionou-o como líder preparado e capaz de fazer muito melhor. Foi exaustivo no diagnóstico, expressivo e contundente.
Terá sido excessivamente agressivo e mordaz?
Como diz o povo na sua imensa sabedoria “para grandes males grandes remédios” e, no assomo da autoridade que lhe confere o seu passado, falou sem rodeios.
Na realidade o país vive numa estabilidade aparente, repetidamente abalada por casos e escândalos. Os índices económicos vão sendo sustentados pelo turismo, pelo aumento das exportações (fruto do trabalho de muitas empresas) e pelos fundos oriundos de Bruxelas. Apesar disto, a maioria dos portugueses vive com dificuldades para contornar o aumento do custo de vida e para pagar a renda ou a prestação da casa.
Em áreas cruciais como a Educação e a Saúde os problemas sucedem-se em catadupa. A Escola Pública vive em estado de sítio com greves sem fim à vista. No Serviço Nacional de Saúde as listas para consultas e exames de certas especialidades não param de aumentar, enquanto cresce o número de cidadãos sem acesso a Médico de Família. Acabaram com as parcerias público-privadas em muitos hospitais e os resultados são os que se veem.
E que dizer da Justiça? Para quando o desfecho dos megaprocessos como o do BES e o da Operação Marquês que se arrastam há longos anos? Acentua-se a ideia de que existe um tratamento para os cidadãos pobres e anónimos e um outro bem diferente para os ricos e poderosos.
Não há semana que não seja contemplada com greves nesta ou naquela área ou protestos deste ou daquele setor. São os funcionários do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, são os agentes da Polícia Judiciária, são os agricultores que clamam por apoios para minimizarem os efeitos da seca e, note-se bem, até os apicultores estão descontentes e ameaçam deixar a atividade. Uma atividade essencial para combater as alterações climáticas e para a sustentabilidade da produção de imensos bens alimentares, como as frutas.
Nesta verdadeira encruzilhada, há que contar com a serenidade e o bom senso do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que após ter ouvido o discurso do seu antecessor não deixará de redobrar a sua atenção sobre o estado do país e sempre agirá com discernimento e sabedoria.
Ao Primeiro-ministro, António Costa, e ao seu governo, resta um estreito caminho que tentarão trilhar com recrudescido ânimo, grande sensatez e cautela. Se isso não acontecer, estou certo de que o mais alto magistrado da nação não terá outra alternativa a não ser usar dos seus poderes dissolvendo a Assembleia da República, convocando eleições antecipadas e devolvendo a decisão aos portugueses.
Por mais tortuosos e difíceis que sejam os caminhos, em democracia há sempre soluções.