Hoje, 22 de maio, é um dia em que a santidade se diz no feminino, dado que se celebra a memória litúrgica das santas Júlia, Quitéria e Rita de Cássia.
Santa Júlia nasceu em Cartago, decorria o ano de 420, e morreu na Córsega, no ano 450. Foi escrava de um comerciante pagão sírio chamado Eusébio que, numa viagem à Europa, a levou consigo. Félix, o governador da ilha da Córsega, tinha-lhe prometido a liberdade, a troco de abandonar o cristianismo, mas Júlia não aceitou, respondendo-lhe que a única liberdade que desejava era servir e amar Cristo. Instada a prestar culto aos deuses pagãos, recusou-se. Félix ordenou, então, que Júlia fosse crucificada como Jesus e, depois, atirada ao mar.
O seu corpo foi encontrado a 22 de maio de 450 pelos monges da ilha de Gorgona, ainda pregado na cruz e a flutuar no mar. Em 722, foi trasladado para Brescia (Itália) e colocado numa igreja a ela dedicada, consagrada pelo Papa Paulo I. É a padroeira da ilha da Córsega, onde, a 22 de maio de cada ano, se celebra a sua festa litúrgica.
Santa Quitéria nasceu em Braga, no século II. Era a oitava das nove filhas do governador Lúcio Caio Atílio Severo, governador da província romana da Galécia, e de Cálcia Lúcia Severo. A história (ou a lenda?) diz-nos que Cálcia Lúcia, sendo estéril, deu à luz nove meninas, de parto único. Perplexa, a mãe teria ordenado à parteira Cília que afogasse as crianças no Rio Este. Esta, porém, não obedecendo à ordem, recorreu a Santo Ovídio, bispo de Braga, que as batizou e as confiou à guarda de algumas famílias dos arredores da cidade.
Já crescidas e tendo descoberto a sua origem, estas irmãs fizeram voto de castidade perpétua e de amor a Cristo. No contexto de uma perseguição, foram chamadas à presença de Lúcio Severo que, ao tomar conhecimento da sua existência, tentou que renunciassem à fé cristã e adorassem os deuses romanos. Porque todas se negaram, sofreram o martírio.
Quitéria tinha, então, quinze anos. O pai quis casá-la com um nobre chamado Germano, mas Quitéria recusou-se e fugiu para o Monte Pombeiro, em Felgueiras. Quando descoberta, o pai ordenou a sua execução, que foi levada a cabo pelo próprio Germano.
Muito interessante e sugestiva, reza a lenda com ela relacionada que, quando a encontraram no monte e a executaram, os soldados ficaram cegos e comeram as próprias mãos, enquanto a santa pegou na sua cabeça decepada e caminhou com ela nas mãos até ao sepulcro que a receberia.
No século VII, o povo começou a atribuir milagres a Santa Quitéria e a venerá-la como mártir. A partir daí, o seu nome foi bastante difundido, sobretudo na França, na Espanha e em Portugal. Mais tarde, com os descobrimentos, chegou também no Brasil. Muito conhecida em diversos locais, em Braga, parece-me que o seu nome não está consagrado na toponímia local.
Santa Rita nasceu em 1381, em Roccaporena (Itália) e faleceu a 22 de maio de 1457, com 76 anos de idade, em Cássia (Itália). Aí se encontra o seu corpo, na basílica a ela dedicada, razão por que a santa é conhecida como Rita de Cássia.
Após muitos padecimentos (sobretudo a violência de Paolo Mancini, seu marido) e perdas (o marido foi assassinado e os filhos foram-lhe tirados pelo sogro), tornou-se irmã no Convento das Agostinhas de Cássia. Aí viveu uma vida austera e realizou muitos prodígios. É a padroeira dos doentes e das mães, a advogada das causas perdidas e a santa dos impossíveis. Costuma ser representada com um espinho cravado na testa, com rosas e crucifixos.
Em Portugal, celebra-se especialmente em Ermesinde, no segundo domingo de junho, com uma procissão e uma feira popular a ela dedicada, o que acontece respetivamente na Igreja de Santa Rita e na Avenida Duarte Pacheco.
Separadas no tempo e no espaço, estas três santas têm em comum o facto de serem mulheres, profundamente crentes, e de terem dado testemunho público da sua fé, o que faz com que continuem a ser propostas como modelo de vida. Aliás, é sobretudo por esse motivo que a Igreja as celebra.