Já lá vão mais de trinta anos que usei, durante algum tempo, este título para escrever sobre a nossa linda e sempre bela cidade de Braga. Foi o tempo em que via com inveja outras cidades levarem até si acontecimentos culturais, científicos, empresariais, fóruns vários de assuntos interessantes e Braga ficava-se pela Semana Santa e o S. João. Braga, sob a presidência de Mesquita Machado, alargou-se, alinhou-se e alindou-se; tornou-se uma cidade moderna e cheia de condições para os atuais visitantes ficarem cá a seu gosto. Faz consolação ver os turistas passear sem esforço nesta cidade plana. Já não precisam de sumir a barriga para passar o elétrico na Rua do Souto. Foi uma época em que a velha cidade medieval foi vencida pelas novas construções e surgiram locais de comércio que dantes se acantonava na Rua do Souto e Capelistas. O pedestre, primeiro. A Indústria apareceu fora do casco do velho feudo da cidade romana. Nunca ninguém ousou pôr isto em causa. Depois… depois veio o tempo de fazer de Braga um centro de concentração e divulgação doutra dimensão: a de juntar às ruas, avenidas e largos, orgulho de pertença, a grandeza duma afirmação cultural que faz da nossa cidade um caminho, um cadinho e um roteiro de discussão intelectual. Poder usufruir de condições condignas de receber, é um sinal de qualidade de vida também para os pensadores que se deslocam a Braga. É o ouro que faz brilhar a pérola. Esta Braga intelectual tem o nome de Ricardo Rio. Este escrito pretende ser um relato de dois tempos em que Braga se tornou grande, em duas dimensões distintas e com coisas singulares. Eu não sei amar desta maneira, mas sei amá-la com a mesma intensidade como meados do século que a fizeram sair de uma pequenez a que parecia estar votada. Esta cidade que eu amo poderá ser mais completa? Só um estatismo exagerado poderia responder pela negativa. A obra dos homens não é um ponto de chegada, será sempre um ponto de partida. Se assim não fora ainda hoje estaríamos sem descobrir a roda. ,No século XI, portanto antes da nacionalidade, há documentos que mencionam uma escola em Braga. Só depois aparecem outras em Coimbra ou no Porto: falamos de escolas monacais e não particulares. Mas a este respeito também Braga é a primeira localidade a ter uma escola fora da catedral. Em meados do século XVI já D. Diogo de Sousa, arcebispo de Braga, queria para a cidade uma escola universitária. Se a morte o não surpreendesse, Braga tornar-se-ia uma cidade universitária. Primeiros passos, primeiros anseios de grandeza intelectual, primeiras tentativas de superioridade escolar: só as águias sabem voar alto. Aos passarinhos restam-lhes os telhados.
Braga, esta cidade que eu amo

Paulo Fafe
22 maio 2023