“Comunicar cordialmente”, eis o que o Papa Francisco recomenda na mensagem escrita para assinalar o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que hoje se comemora. “O apelo para se falar com o coração interpela radicalmente este nosso tempo, tão propenso à indiferença e à indignação, baseada por vezes até na desinformação que falsifica e instrumentaliza a verdade”, escreve o Papa.
Notando que, nos anos anteriores, tinha reflectido sobre os verbos “ir e ver” e “escutar”, condições imprescindíveis para uma boa comunicação, Francisco afirma agora o imperativo de “falar com o coração”: “Foi o coração que nos moveu para ir, ver e escutar, e é o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora”. Para o Pontífice, após “o treino na escuta, que requer saber esperar e paciência, e o treino na renúncia a impor em detrimento dos outros o nosso ponto de vista, podemos entrar na dinâmica do diálogo e da partilha que é, em concreto, comunicar cordialmente”.
Francisco considera que, “num período da história marcado por polarizações e oposições – de que, infelizmente, nem a comunidade eclesial está imune –, o empenho em prol de uma comunicação ‘de coração e braços abertos’ não diz respeito exclusivamente aos agentes da informação, mas é responsabilidade de cada um”. Acrescenta o Papa que “todos somos chamados a procurar a verdade e a dizê-la, fazendo-o com amor”.
O convite a um “falar amável” pode parecer uma sugestão voluntarista, mas é verdade que essa amabilidade tem sido, de facto, apropriada para, não raras vezes, abrir “uma brecha até nos corações mais endurecidos”. O Papa observa que é precisamente isso que se experimenta na convivência social, quando “a gentileza não é questão apenas de ‘etiqueta’, mas um verdadeiro antídoto contra a crueldade, que pode, infelizmente, envenenar os corações e intoxicar as relações”. É por isso que, acrescenta Francisco, precisamos desse “falar amável” no espaço público mediático “para que a comunicação não fomente uma aversão que exaspere, gere ódio e conduza ao confronto, mas ajude as pessoas a refletir calmamente, a decifrar com espírito crítico e sempre respeitoso a realidade em que vivem”.
A mensagem enfatiza um conselho: impõe-se “desarmar os ânimos, promovendo uma linguagem de paz”. Citando o livro dos Provérbios, que diz que “a língua branda pode até quebrar ossos”, Francisco insta a que se fale “com o coração para promover uma cultura de paz, onde há guerra; para abrir sendas que permitam o diálogo e a reconciliação, onde campeiam o ódio e a inimizade”.
Retomando uma exortação do Papa João XXIII, que pretendia uma paz baseada não no medo, mas na confiança mútua, Francisco pede confiança – o oposto do cinismo – “uma confiança que precisa de comunicadores não postos à defesa, mas ousados e criativos, prontos a arriscar na procura dum terreno comum onde encontrar-se”.
É um trabalho de longo fôlego, mas “urge assegurar uma comunicação não hostil”. Se, frequentemente, parece difícil nas relações em que é o poder a ditar as regras, o “falar amável” é uma possibilidade exequível sempre que emerge um módico de empatia. Às vezes, para começar, é suficiente conter esse quase irresistível e tão fomentado impulso para reagir imediatamente.