Mastigada ou fumada, utilizada em cerimónias, rituais ou mesmo na vida quotidiana, a planta do tabaco foi sendo utilizada por vários povos ao longo da História.
O seu uso foi-se propagando, impulsionado, sobretudo, pelo alegado valor terapêutico que lhe era atribuído.
Com a chegada da revolução industrial e o aumento da produção manufaturada em larga escala, o hábito foi-se enraizando até se tornar socialmente aceite.
A sua crescente e indiscriminada utilização, em locais de trabalho, cafés, bares e discotecas, entre muitos outros, foi, em especial nas classes jovens, mais do que um ato de prazer, a chave mestra de um mecanismo de aceitação social e de pseudo-emancipação.
Hoje, profundos conhecedores dos malefícios imputados a esta prática (estima-se que cerca de dois terços das causas de morte nos fumadores são imputáveis ao consumo de tabaco; atente-se ainda que, em média, um fumador vive menos 10 anos do que um não fumador, sendo o tabaco o único fator de risco comum a quatro das principais de doenças crónicas: cancro, doença respiratória crónica, diabetes e doenças cérebro-cardiovasculares) torna-se premente encetar-se medidas que permitam não só combater os grandes interesses económicos, as formas publicitárias mais ousadas e apelativas ou ainda diminuir os locais de venda mas, também e essencialmente, promover a Saúde daqueles que não querem, nem podem, estar sujeitos aos malefícios provenientes do consumo do tabaco.
Dados de 2019 apontavam para a ocorrência em Portugal de cerca de 13.500 óbitos atribuíveis ao tabaco!!
Um aplauso sincero, ainda que tímido – a avaliar pela onda crescente de insurreições que ameaça vergar, mais uma vez, uma boa medida de saúde pública – para o anúncio do Governo a propósito da nova lei do Tabaco e das medidas, que aí foram certamente preconizadas.
A promoção da saúde e a prevenção da doença são alicerces absolutamente fundamentais para a sustentabilidade do sistema de saúde, que não podem andar a reboque de estigmas e preconceitos ideológicos e/ou políticos.
A Saúde, como muitas vezes tem sido repetido, é um bem e um direito que deve ser preservado, mas também uma obrigação, nomeadamente no zelo que sobre ela deve advir, cabendo aos cidadãos a assunção do princípio de que cada um é também, em parte, responsável por ela.
Fumar é, inquestionavelmente, uma decisão individual e constitui uma liberdade que deve ser respeitada, mas, da mesma forma, impõe-se o respeito pela liberdade daqueles que não adotam este estilo de vida.
Parafraseando o Sr. Prof. Henrique Barros “Não é “estalinianamente” retirando o cigarro do retrato de Bogart que a mensagem passa. Mas também não se vai lá sem lembrar porque é que ele morreu muito mais cedo do que a sua condição social faria esperar.“
A utilização do tabaco é a mais importante causa de morte passível de prevenção, pelo que não há qualquer razão plausível para que não se lancem todas as medidas necessárias à sua redução ou limitação.
Que não se regateiem esforços e coragem para lutar pelo que é cientificamente certo e socialmente justo!