O Hallux valgus, mais frequentemente conhecido como joanete, é uma patologia comum do antepé caracterizada por uma deformidade do dedo grande (Hallux). Esta doença leva a um desvio progressivo do dedo em direcção aos dedos menores, causando frequentemente uma deformidade por acomodação dos mesmos. O sintoma mais comum é dor no “joanete” e pode manifestar-se também como desconforto local, dificuldade de adaptação ao calçado e dor nos dedos adjacentes.
Tratando-se de uma deformidade complexa, todas as opções curativas implicam uma correcção cirúrgica. No entanto, o tratamento não cirúrgico é possível, recorrendo à alteração do tipo de calçado, alteração da actividade, controlo do peso e medicação durante a fase aguda, podendo-se obter um resultado clínico satisfatório em casos seleccionados.
Felizmente nos últimos anos houve grandes evoluções, quer no aperfeiçoamento de técnicas mais antigas, quer no surgimento de novas, destacando-se as seguintes técnicas: osteotomia distal em chevron, MICA (ou percutânea de 3º geração) e procedimento de Lapidus. Acompanhando a evolução científica, o Serviço de Ortopedia do Hospital de Braga realiza as diferentes técnicas, adaptando as vantagens e desvantagens a cada caso.
A osteotomia distal do 1º metatarsiano em chevron é o procedimento mais versátil e mais comum. Trata-se de um tipo de osteotomia (corte do osso) em forma de V na região da cabeça do metatarsiano que nos permite fazer uma translação, reposicionando a cabeça na posição correcta, de forma a realinhar o dedo e o eixo do 1º raio. É um procedimento aberto, adequado a casos de hallux valgus ligeiro e moderado.
A osteotomia percutânea de 3ª geração ou MICA (minimally invasive chevron Akin) é um procedimento semelhante ao chevron, porém executado por via percutânea (pequenos furos na pele) com recurso a instrumentos próprios desenhados para este procedimento. Dado a menor agressão cirúrgica associada e menores incisões há uma cicatrização e recuperação mais rápidas. Esta técnica é apropriada para casos ligeiros e moderados bem como deformidades rotacionais, podendo ser adaptada para alguns casos de doença severa.
O procedimento de Lapidus é o mais agressivo, mas também aquele que possui a maior capacidade de correcção de deformidade. Ao contrário dos anteriores é uma artrodese (fusão articular) da base do 1º metatarsiano que estabiliza a articulação e corrige a posição do dedo e eixo do 1º raio. Este procedimento está reservado para casos de hallux valgus severo ou associado a artrose ou instabilidade do 1º raio.
À excepção da última, estas técnicas são pouco invasivas, realizadas em regime de ambulatório e associados a baixos níveis de dor, facilmente controlada com medicação analgésica. O doente tem alta no mesmo dia, saindo a andar pelo próprio pé com a protecção de um sapato pós-cirúrgico. A recuperação é relativamente rápida podendo o doente retomar calçado confortável após 4 semanas.
Como já referido, cada procedimento tem diferentes riscos e benefícios, sendo a escolha do procedimento dependente da severidade da doença, das patologias associadas, de condicionantes do doente, expectativas e necessidades particulares do mesmo. Assim sendo, a avaliação do doente, um diagnóstico correcto e a escolha do procedimento mais adequado por um cirurgião com experiência nas diferentes opções são fundamentais para o sucesso do tratamento.
O presente artigo é redigido segundo o antigo acordo ortográfico.