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Enquanto no Portugal contemporâneo tudo (ou nada) acontece?

Enquanto em Portugal se vai discutindo o sexo dos anjos em comissões de inquérito. Enquanto em Portugal se permite que um certo partido com assento na Assembleia da República suprima a sua democracia interna ao afastar o Método de Hondt. E nem 99 pessoas consegue juntar para fazer um cerco contra a DEMOCRACIA PÚBLICA. Até tiveram que suprimir autocarros… Ninguém queria ir… Explica-me lá, oh pá: como é que podes ser admirador de Salazar e neoliberal selvagem ao mesmo tempo?! É que Salazar era anti-liberal! Certamente estudaste os livros errados. Como é que andas sempre a dizer mal do Estado e és Funcionário Público com licença-sem-vencimento?! Enquanto em Portugal se permite que diversas máfias de todo o mundo vão criando raízes e desenvolvendo bases naquela que é a 2ª maior porta giratória do mundo de drogas duras (e de salários miseráveis). E até metendo dinheiro em alguns partidos… Enquanto em Portugal se permite que os Bancos tenham dos juros mais baixos da U.E. e tenham dos maiores números de comissões cobradas inclusive a pessoas com dificuldades económicas. Enquanto em Portugal certas concessionárias de estradas, supermercados, empresas de comunicação, de papel e de electricidade e de combustíveis atingem lucros nunca vistos. Socorro, Ana! Enquanto em Portugal se apela em público “à morte do homem branco”, num campeonato em que “o teu ódio é pior do que o meu”. Enquanto em Portugal se continua a assobiar para o lado quando ninguém se admira, nem faz nada, por existirem obras públicas que ultrapassam o projecto inicial em “só” €500 milhões. Já não bastavam os €12.000 milhões do Orçamento Geral do Estado em saco azul (como se ainda estivéssemos na Guerra do Ultramar: Paz às Almas de Amaro da Costa e de Sá Carneiro e acompanhantes). Noutros países do 1º mundo dá prisão, em Portugal, condecoração! Enquanto em Portugal se quer matar a própria Mãe. Enquanto em Portugal os Professores do Ensino Superior perdem quase ¼ do seu poder de compra nos últimos 10 anos, entre muitas Outras Profissões. Enquanto em Portugal ainda grassa a ignorância de que a Universidade deve somente produzir empreendedores do lucro pecuniário. Enquanto em Portugal não ser corrupto se tornou numa “vergonha social”: “o mundo é dos espertos e não dos inteligentes”. Enquanto em Portugal há vergonhosos abusos sexuais na Igreja que conspurcam o Sagrado e que devem ser punidos, quer no foro canónico e religioso, quer no criminal. Sendo que a Ética nunca prescreve e a prevenção face aos que continuam em exercício continua válida: afaste-se já! Mas já há outros abusos: p.e. nas “escolas desportivas ou empresas” que não existem! Enquanto em Portugal alguns dos piores, entre os piores, ocupam assentos na Assembleia da (Des)República. Mais burro do que eu, não há, toma lá! Enquanto em Portugal se julga que a felicidade está na imposição da vontade da minoria sobre a maioria. Enquanto em Portugal só se fala de futebol a toda a hora (salvo o devido respeito pelos contadores de histórias para crianças). Enquanto em Portugal se continua a não pagar impostos, a torto e a direito. Enquanto em Portugal se usa o assédio no trabalho para ainda tirar mais direitos aos trabalhadores. Enquanto em Portugal a prescrição é um “Deus-Ateu do Olimpo”. Enquanto em Portugal se tenta (também) separar os portugueses entre si, colocando uns contra os outros nas velhas técnicas do nazi (e antes de) Carl Schmitt (perdoado pelos Aliados como outros milhões, num processo ecológico de reciclagem bélica, para enfrentar o “novo Hitler”: Estaline). Enquanto em Portugal tudo acontece - mas na realidade nada acontece! - , eis que as execuções de seres humanos que se levantaram em nome de Valores-Universais-de-Abril aumentam pelo mundo afora. Em 7/1/23, o Campeão Nacional de Karaté do Irão Mohamed Mehdi Karami, 22 anos, por ter dado uns gritos na rua, é enforcado. E 99,9% da população Portuguesa não quer nem saber. Ou talvez 101% em relação às centenas de execuções na Arábia Saudita, pois mais importante é a decoração da casa de CR7.

Gonçalo S. de Mello Bandeira

Gonçalo S. de Mello Bandeira

19 maio 2023