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Comunicação e diálogo

1. O aproximar-se do Dia Mundial das Comunicações Sociais justifica, penso, uma reflexão sobre a relação entre comunicação e diálogo.

No processo de comunicação existem o emissor, o recetor e o meio.

O emissor e o recetor são seres humanos. Mesmo quando se trata de o emissor ser uma única pessoa e o recetor, pessoas diversas. Cada uma destas é pessoa.

Ao elaborar e enviar a mensagem o emissor deve ter em conta o recetor, que, como ele, também pensa, tem as suas opiniões, tem a sua sensibilidade, vive em circunstâncias concretas. Que reage a estímulos provocados pelo emissor.

Conhecer o recetor é determinante na escolha do meio e da linguagem a usar. Enviar textos escritos a analfabetos, mensagens orais a surdos ou mensagens por correio eletrónico a quem não possui internet…

 


2. Comunicação e diálogo devem caminhar juntos. Isto, tratando-se de autêntica comunicação e não de um bombardeamento de monólogos. Os papéis de emissor e de recetor invertem-se: o recetor também passa a emissor e este a recetor.

A verdadeira comunicação é uma rua de dois sentidos e não uma ampla avenida de sentido único, onde o emissor se julga no direito de dizer quanto lhe apetece e o recetor, pacientemente, ouve. Se faz caso ou não…

A comunicação humana não é isso. Isso não passa de um exercício de autoritarismo.

 


3. Comunicar e falar (verbalmente, por escrito, através dos modernos processos de enviar mensagens) podem não ser a mesma coisa. Há quem se julgue muito comunicativo simplesmente porque é muito palrador. Fala, fala, fala e não abre um intervalozinho para dar ao outro o poder de intervir.

Mas do que realmente se necessita é de verdadeiros comunicadores e não de indivíduos que andam a introduzir mensagens publicitárias nas caixas de correio. O que não significa que este não seja um trabalho tão honesto e tão digno como qualquer outro.

É fácil redigir e divulgar circulares. É fácil pôr avisos. Quanto a comunicar…

Comunicar é dialogar, e dialogar compreende o direito de falar e o dever de escutar (não apenas o de ouvir).

 


4. Enviar a mensagem e desconhecer por completo a forma como é recebida e as reações que provoca é uma ilusória forma de comunicar.

«Eu disse», «eu preveni», afirma o emissor, muito persuadido de ter realizado impecavelmente o seu trabalho. Que importa ter dito e prevenido se o recetor não captou a mensagem, não a soube interpretar ou simplesmente fez de conta?

 


5. Isto também tem muito a ver com a sinodalidade da Igreja, onde há quem esteja a pagar o preço de não ter comunicado ou de o não ter feito como devia.

A pior ideia que se pode dar de sinodalidade é o autoritarismo. É o falar de cima para baixo. É não reconhecer aos outros o direito /dever de pensarem, de terem opinião e a poderem expressar. É ignorar a sensibilidade dos outros.

Caminhar juntos. Mas porquê, para quê, com que meios?

 


6. A sinodalidade está muito relacionada com a ideia de Igreja: se entendida como pirâmide, onde quem está no vértice comanda um rebanho que, às vezes cega e acriticamente, o acompanha, se como Povo de Deus, onde a informação circula, onde a cada um é reconhecido o direito/dever de intervir na elaboração dos planos e não apenas se exige colabore na sua execução.

 


7. Vejo na sinodalidade o caminho a seguir mas reconheço as dificuldades que lhe estão inerentes. Há toda uma conversão a fazer. Há que pôr termo ao eu quero, eu posso, eu mando. Há que refrear o exagerado ativismo de uns e sacudir os cómodos passivismo e indiferença de outros. Há que transformar o eu, ou ele, em nós.

Silva Araújo

Silva Araújo

18 maio 2023