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Pecados capitais

Há quem seja afoito em afirmar a sua condição laica, não vá alguém pensar tratar-se de um político sem pergaminhos republicanos. Mas, um Estado laico não é um centro de virtudes. Até pode ter algumas, mas tem certamente muitas debilidades. Também existirão pecados, e dos graves, dos capitais, daqueles que dão origem a outros mais leves, contudo, pecados. Quem se diz laico, bem pode defende a sua “doutrina”, mas não consegue desprender-se das maleitas a que qualquer ser humano está sujeito. Não pecar é trabalho de todos. Pecar prejudica todos. Nos tempos que vivemos, o Governo tem cometido muitos dos mais graves pecados capitais, sobretudo, dos que têm a ver com a soberba, a preguiça e a mentira. E apesar de ter sido chamado à atenção, não tem ligado patavina. Ser republicano exigiria outra atitude ou então os princípios são mera conversa para legitimar uma prática balofa e hipócrita.

A soberba deste Governo, que lhe advém duma maioria absoluta confortável, é o primeiro dos vícios que tem vindo a entranhar-se. Com frequência, toda a oposição tem apresentado propostas sobre os mais variados assuntos e a bancada socialista tem-se fecha em si própria e rejeitado qualquer outra proposta que não a sua, caso a tenha, e mesmo que não seja o caso. Contra a soberba, humildade, mas é coisa que não existe na actual maioria, como não existirá em nenhuma outra maioria absoluta. A prática tem vindo a desmentir a vantagem democrática de uma maioria de partido único. É que se usa e abusa do estatuto de se ser maioritário. Pena que alguma humildade não seja adoptada na actividade governativa e parlamentar, pois tal ajudaria a descomprimir alguns exageros que pontuam no sistema político. Ser humilde em democracia significa ser consequente com o respeito que é devido aos eleitores no seu todo, aos que votaram no partido vencedor e aos que votaram noutros. A tentativa de alguém ou de alguma entidade se considerar absoluto(a) nas decisões, de se considerar auto-suficiente e com prerrogativa para passar por cima de quem lhe tenha delegado a representação através do voto, é o princípio de todo o pecado. A soberba está associada à arrogância e não faltam exemplos dela no actual Executivo.

Outro dos pecados capitais cometido por quem nos governa é a preguiça. Algum cansaço é normal num Governo formado há sete anos, mas o que já não é normal é que a preguiça tome conta de um Executivo reconduzido ainda há pouco tempo e que tem um horizonte de mandato que só termina em 2026. Não se vislumbra disponibilidade, nem força de vontade, para resolver muitos dos problemas dos cidadãos. Sente-se uma grande falta de interesse, de capricho em arregaçar as mangas, e muita resistência em sair do conforto dos interesses partidários e pessoais. Logo na posse da recondução, a remodelação governativa desiludiu quase todos. Depois, quando se previa que a demissão do ex-ministro das Infraestruturas e de outros governantes de segundo nível iria ser aproveitada para uma mexida profunda, o primeiro-ministro surpreendeu pela negativa, promovendo uma personalidade que está a dar que falar e de quem se dizia na altura que lhe faltava estaleca para uma pasta de grande peso político. António Costa pecava então por soberba dentro do seu próprio partido e por preguiça para com o país. Seguiu-se um “orçamento preguiçoso”, assim foi chamado, não se dando o Governo ao trabalho de ajustar diversas projecções preparadas antes do acto eleitoral antecipado. Entretanto, a pobreza alastra, a inflação mina as economias familiares e o Governo continua a ser “poupado” com os pensionistas e a não mexer na fiscalidade. A Educação e o Sistema Nacional de Saúde, para só falar nestas áreas, continuam num degredo. É caso para dizer, sem utilizar o vernáculo, que o Governo nem faz nem desocupa. Contra a preguiça, diligência, a virtude que se pede a quem nos governa.

Infelizmente, há outro vício que tem qualificado o Governo de Portugal: a mentira. Só no processo da TAP, foram apanhados na curva vários ministros. Mas, não é novidade. A verdade no Governo socialista de Costa sempre foi muito rara. E termino por aqui que se faz curto o espaço.

Luís Martins

Luís Martins

16 maio 2023