O desfile do dia 9 de Maio, na Praça Vermelha, na Rússia, foi uma demonstração de força militar que não passou duma farsa.
Ver aqueles soldados a marchar como autómatos, autómatos por fora e autómatos por dentro, e aquele “poderio militar” em ostentação de poder bélico, esbanjado na jactância de quem vive de aparências, dava para temer se não soubéssemos que aquilo não passa de soldadinhos de chumbo em desfile de continência a Putin.
Os verdadeiros soldados em guerra pela Rússia, são os que foram recrutados nas prisões a troco de perdão e os vadios sem eira nem beira, porque houve uma fuga imediata de recrutáveis russos; os russos quando lhes cheirou a recrutamento, puseram-se a salvo em debandada de cobardia sem outro nome.
Quem são estes mercenários que têm como líder o sr. Wagner? Este líder parece que ainda não percebeu que está a ser usado como carne para canhão. Estes mercenários russos são os pretorianos do imperador Otaviano que os tinha para sua guarda pessoal. Wagner é um insurreto e, como tal, e porque é mercenário, está sempre ao lado de quem lhe pagar mais. Estou desconfiado que se o Ocidente pagasse a este senhor, mais do que lhe paga o Kremlin tornar-se-ia um traidor à Rússia; esta perderia de imediato a guerra em que se envolveu como invasor porque só tem exército para paradas.
Então toda aquela demonstração de força, em desfile mascarado de força, o que representa? É uma capa rica para esconder uma roupa rota. É a casca de uma pobreza militar ou, como se diz em certo jogo de cartas, não passa de um bluff. Nem isto é inédito como disse Camões, “Em Portugal, alguns traidores tivemos algumas vezes”. Roma, a toda poderosa à época, também matou Viriato à traição; Judas, o da Última Ceia, sujou as mãos nas trinta moedas romanas: o saco cheio de denares, esvaziou-lhe a alma. “Nenhuma fortaleza é tão inexpugnável que uma mula carregada de ouro não possa entrar”, disse Alexandre da Macedónia, O Grande. Isto é uma infâmia, toda a traição é uma infâmia, nem estou a fazer a apologia da traição, apenas estou a demonstrar como é possível comprar um mercenário.
A Rússia, tal com tem o seu exército com soldadinhos de opereta, perderia rapidamente a guerra se o Ocidente desse mais força e talvez apadrinhasse um contra-ataque rápido movido pela força que recende da convicção de quem está a defender um direito de soberania em todo o seu território.
Começamos a ver a demora deste contra-ataque com alguma falta de fé no amanhã. Estamos fartos de guerra e dos seus males morais, psicológicos e materiais; acabem de uma vez com isso.
Wagner, O Mercenário, traz-nos outro Wagner à lembrança, Richard Wagner, O Maestro. Enquanto este está na galeria de Verdi, Liszt, Strauss, Beethowen ou Brahms, o Wagner mercenário tem como colegas todos os traidores “a quem Roma não paga”. A Praça Vermelha é, assim, o palco de uma farsa, onde a Rússia representa no dia 9 de cada ano, uma encenação de poder bélico.