O rejuvenescimento dos sistemas políticos continua envergonhadamente a ser colocado na prateleira pela classe política, mas, sem ele, corremos o risco de tornar inócuos todos os esforços que têm sido encetados para inverter o “caos” em que temos vivido numa viagem, sem rumo nem a força necessária para de forma convicta invertermos o rumo dos acontecimentos. O Dia da Europa, comemorado no passado dia 9, voltou a ser marcado pelos discursos sobre a urgência da Mudança, mas com exceção de Marcelo Rebelo de Sousa, assistiu-se, em Portugal, a um encolher de ombros que mostra bem a urgência de tomarmos nas nossas mãos (sociedade civil) a liderança e percorrer o caminho para consolidar a Democracia como o melhor sistema político. Esta convicção tem uma expressão global a crer nos 84 por cento de respostas positivas ao Índice de Perceção da Democracia, organizado pela Fundação Aliança de Democracias, do dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen, conhecido naquele dia em que as atenções se viraram para o Parlamento Europeu, onde discursou o Presidente da República. O estudo, desenvolvido em 53 países, incluindo Portugal, abrangeu 50 mil pessoas e as conclusões tocam sempre nos mesmos pontos: o decréscimo da avaliação positiva em vários parâmetros de avaliação dos regimes políticos, quer na Europa, quer nos Estados Unidos. É aqui que o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa se torna importante, principalmente por colocar no “rejuvenescimento dos sistemas político, económico e social, a chave para responder ao crescimento do iliberalismo e do nacionalismo. A chave está na “mudança geracional” e no aumento da participação dos jovens, mas como inverter esta tendência suicida do sistema, se teimamos em fazer mais do mesmo, da mesma maneira e quase sempre com os mesmos protagonistas ou cópias mal feitas e herdeiras dos mesmos vícios de forma e conteúdo? – Ao ler as conclusões do estudo, percebemos que as razões com o descontentamento crescente dos europeus bate nas mesmas razões que, ano após ano, tem direito a uma referência na comunicação social, sem que se tirem ilações práticas e se criem mecanismos que combatam as causas do profundo mal-estar que nos assola. Desigualdade económica, corrupção e surpreendentemente a influência das empresas globais, ocupam os primeiros lugares nas ameaças identificadas pelo estudo. A promoção dos direitos cívicos e a liberdade individual aparecem como respostas essenciais à insatisfação global dos inquiridos. Como responder aos três terços dos húngaros, aos 60 por cento de polacos e aos cerca de 50 por cento de gregos, franceses e holandeses que acreditam não viver numa verdadeira Democracia se todos os dias a realidade bate à porta com cada vez mais violência, destronando a perceção dos valores fundamentais do Sistema? Nos primeiros dias da próxima semana, Copenhaga será palco da sexta Cimeira da Democracia com as atenções viradas para o estudo. Será mais um ou o estudo que precisamos para tomar medidas. Dificilmente, conseguiremos obter respostas concretas e provavelmente assistiremos a uma enxurrada de discursos pomposos e de circunstância que nada acrescentarão, à exceção da desilusão, ao problema de fundo enunciado por Marcelo Rebelo de Sousa e a que urge dar uma resposta à altura da gravidade da situação. O modelo de governação dos partidos continuará a ser equacionado por aqueles que, como eu, acreditam ser uma urgência imperiosa para fazer face à desilusão e à crença de que tudo o que se faça, não terá consequências porque quem manda não quer a Mudança. Ainda não chegamos ao ponto de assistirmos a manifestações na rua em defesa da Democracia, o que seria bom para Portugal e para a Europa, logo agora que se adivinha um embate para a redefinição das forças políticas no Parlamento Europeu. As próximas eleições em Junho do próximo ano serão, para além de um teste aos partidos tradicionais, um dos momentos mais importantes para percebermos se os europeus vão continuar a desvalorizar o trabalho de um dos principais palcos da democracia europeia ou se, definitivamente, vão participar em massa na escolha dos seus eurodeputados. Por agora, como se tem visto, tem sido a Indiferença a marcar pontos. Esta ataraxia precisa de respostas concretas, de mobilização social e muito debate, para obrigarmos ao rejuvenescimento e sobretudo à mudança de mentalidade e de modelo de governação da coisa púbica e dos partidos, seja em Portugal ou em qualquer outro ponto do mundo onde os democratas aspiram à solvabilidade da Democracia.