A humanidade atingiu um estádio de desenvolvimento extremamente complexo a vários níveis. O crescimento da população (tendo já ultrapassado os 8 mil milhões de pessoas no final do ano passado), as necessidades de recursos (renováveis e não renováveis) que tal efetivo humano implicam, os problemas ambientais colocados pelo nosso modelo de desenvolvimento (pouco ou nada sustentável), são apenas algumas das questões. Inelutavelmente, uma dessas questões dá pelo nome de resíduos. Há medida que nos formos divorciando da mãe Natureza, estas problemas apenas têm aumentado.
A produção de enormes quantidades de resíduos e o destino a dar-lhes é um desafio que tem de ser enfrentado e resolvido de forma corajosa pelos governos, autarquias, empresas, mas e principalmente por cada um de nós que, no fundo, é o responsável por todos os resíduos gerados.
O nosso país tem vindo a fazer algum trabalho na questão do tratamento e encaminhamento a dar aos resíduos, mas há ainda um longo caminho a percorrer.
Para que esse caminho possa ter êxito, é importante que que cada um tenha plena consciência do papel decisivo que tem.
Existe um Plano Estratégico de Resíduos Urbanos que tem de estar concluído em 2030 (PERSU 2030), que se insere nas políticas comunitárias, o qual nos seus próprios termos visa “uma maior prevenção dos resíduos, um aumento da preparação para reutilização, reciclagem e outras formas de valorização dos resíduos urbanos, com a consequente redução do consumo de matérias-primas primárias, dando um contributo de relevo para a melhoria do ambiente.”
Na verdade, somos em crer que o cidadão comum não está devidamente informado das consequências que os seus hábitos de consumo têm sobre o meio ambiente.
Não existe uma verdadeira política que encaminhe as pessoas para uma redução e reutilização dos resíduos.
Atualmente, as pessoas já pagam pelos resíduos que produzem e que encaminham alegremente via sistema municipal de recolha de resíduos urbanos para os aterros e sistemas municipais de tratamento. Há dias, circulou nas redes sociais (eu vi no WhattsApp) uma imagem de alguém indignado pelo pagamento de 0,30€ correspondente à embalagem de frango assado que adquiriu no supermercado, o que mostra total desconhecimento relativamente ao pagamento das embalagens de utilização única. Para a próxima leve um tupperware. Nada pagará e será menos um resíduo a descartar.
Penso que já todos repararam numa rúbrica que vem na fatura da água com a designação TGR (taxa de gestão de resíduos) e que corresponde a uma tarifa variável indexada ao consumo da água. Pagamos uma taxa para a gestão de resíduos em função do nosso consumo de água.
Contudo, felizmente, isto vai mudar muito em breve (2026).com a implementação do sistema PAYT (Pay-as-you-throw). Com o PAYT o sistema vai medir e aplicar as tarifas em função dos resíduos que cada um efetivamente produz, introduzindo mais justiça e equidade no sistema.
Capacitemo-nos, pois, para, em primeiro lugar, diminuir a quantidade de resíduos individualmente produzidos. Por outro lado, separemos e encaminhemos os resíduos, em função da sua natureza, para os locais corretos (ecopontos amarelo, verde e azul, pilhões, oleões, …). Desta forma, quando o sistema for implementado ao nível local, não constituirá uma surpresa e cada um estará preparado para dar aos resíduos o seu destino adequado e, simultaneamente, pagar uma taxa correspondente aos resíduos concretos que produzir. Se diminuirmos a produção de resíduos e se lhes dermos o destino correto, vamos pagar menos, ambientalmente e na carteira de cada um!