Agora que a poeira assentou sobre as tumultuosas comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República onde um chorrilho de impropérios e desmandos verbais imperou, tempo é de refletirmos sobre o comportamento da oposição (à esquerda e à direita), criticando ferozmente o governo e deste que, não se fazendo rogado, lhe respondeu na mesma moeda; e, assim, passada para o exterior a imagem óbvia dos males de que enferma a nossa vida democrática e os ínvios caminhos que nos conduzem ao futuro.
Mas, a maior escorregadela política veio do presidente do Parlamento, Augusto Santos Silva, que, à boa maneira de tempos passados, fez questão de lembrar que quem se mete com o Partido Socialista (PS) leva; e na lógica caseira de que, tendo conquistado a maioria absoluta nas umas, com o PS ninguém manga, fez um jeitaço ao Chega, zurzindo-o verbalmente, forte e feio, com o propósito de lhe lembrar que na casa da democracia não há lugar para irreverências e atitudes fascistas.
Pois bem, esta forma negativista e caceteira de tratar o fenómeno populista, extremista e xenófobo de certos movimentos políticos, quer de extrema-direita, quer de extrema-esquerda, só joga a seu favor, dando-lhes importância e visibilidade e, até certo ponto, abrindo-lhes espaços de manobra política e audiência pública; e estou mesmo em crer que o senhor presidente da Assembleia da República, não sendo feliz nas reprimendas e ameaças usadas, prestou um mau serviço, a meu ver, à consolidação e afirmação dos princípios e valores que definem e norteiam a nossa ainda jovem Democracia.
E, então, esta forma de atuação política, embora não pareça, representa de facto tiros no próprio pé que, no calor do discurso, têm sido dados por muitos políticos, quer da governação, quer da oposição; o que mostra à saciedade que o país não vai bem e a democracia corre sérios riscos de enfraquecer e, inclusive, de definhar, porque quem maior obrigação tem de a defender, robustecer e ativar que são os governantes e os dirigentes e agentes políticos em geral com estas lições públicas de arrazoados balofos, inconsequentes e disparatados cavam a sua sepultura.
Depois, a agitação social que se instalou nas ruas, associada às balbúrdias e escândalos em determinados setores da governação, mormente na Educação, Saúde, Justiça e TAP reclama urgente intervenção do presidente da República; e, embora o primeiro-ministro continue a afirmar que a legislatura é para levar até ao fim (2026) e se houver demissão do Parlamento vai a votos, esta não é a forma correta de honrar as palavras e os factos e alcançar consensos políticos.
Perante isto o que se espera é ouvir o povo e saber o que ele pensa sobre a situação económica e social do país; e se na boca dos partidos políticos o povo é quem mais ordena, a meu ver, o referendo será o melhor e mais rápido meio de o ouvir (sim ou não) sobre a dissolução do parlamento e a marcação de eleições.
Agora, que certos chefes políticos não se arvorem em donos do povo que bem dispensa tutores e tutorias; e, antes, esclareçam, mobilizem e dinamizem através de sua exemplar prática diária esse mesmo povo para que daí resulte a defesa, o aprofundamento e o enriquecimento da nossa vida democrática.
E, sobretudo, que a contenção verbal, a urbanidade e a saudável convivência entre todos os partidos, ativistas e atores políticos sejam efetivos garantes do exercício cívico e democrático; e que sempre se lembrem que o 25 de Abril é de todos; ele é, sobretudo, do povo e não, apenas, das esquerdas que reclamam a sua exclusiva paternidade, dando muitas vezes o mau exemplo, por atos e por palavras, de não cumprirem o que Abril nos trouxe, na sua pureza original, de liberdade, mais igualdade, mais justiça social e mais paz entre todos os portugueses.
Então, até de hoje a oito.