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Abraço com emoção

“Este é o primeiro ano, a caminho do fim do teu curso”. Caloiro, estás na recta final da primeira etapa da tua vida na Universidade do Minho. No segundo dia em que o neto vestiu o traje académico [06/05/2023], o seu avô (interrompeu a leitura do romance, num momento em que o amor humano de um casal era sustentado por uma tolerância inter-religiosa), o seu avô (dizia eu) ao ver o neto trajado pela primeira vez; fechou o livro, e, impulsionado pela mola do Amor familiar, levantou-se do cadeirão. 

E, em tronco nu, deu-lhe um abraço tão forte quão emocionado, tanto que lágrimas de um “sal doce” lhe rolaram pela face. Ao mesmo tempo que disse ao neto materno mais ou menos estas palavras: “Desejo-te do mais fundo do coração que sintas e vivas a tua vida académica, no estudo e na praxe, com a mesma intensidade com que eu senti e vivi a minha, nestas duas vertentes, enquanto aluno da Universidade de Coimbra”.

E continuou: “Que, nos bancos e laboratórios da tua Faculdade, bebas da taça do Saber, mais do que eu. Aplicas-te a aprender nos livros mais (pois eu tanto os abri como os meti debaixo dos braços, numa tentativa do falacioso “estudo por osmose”!!) 

Uma curiosidade veio depois à lembrança do avõ: “Eu fui caloiro no ano lectivo de 1962/63, e este meu neto foi/é caloiro em 2022/23. Sessenta anos nos separam”. 

Cada universidade com a sua praxe académica, todas elas com os seus estudantes. Há naturalmente diferenças; e mal fora se elas não existissem. O caloiro deste escrito foi baptizado pela sua madrinha no tanque octogonal do Jardim de Santa Bárbara. Tal como o foram muitos (todos?) os outros. Mas só deixará de ser caloiro quando, integrado no cortejo académico, passar diante do “papa”, autoridade máxima da academia, instalado na tribuna das autoridades. 

O avõ do caloiro, por seu turno, enquanto caloiro, foi considerado um reles animal, no penúltimo patamar, abaixo de cão, e apenas acima do inimigo figadal dos estudantes, muitas vezes praxado para se colocar na sua posição normal, que era com as quatro patas no chão. E só passava a ser um ser humano no dia do cortejo; partia os cornos, e enfeitava as “feridas” na testa com mercurocromo e duas cruzes de adesivo. 

Bernardino Luís Costa

Bernardino Luís Costa

10 maio 2023