No passado dia 29 de abril, mediante iniciativa da Grã Ordem Afonsina, uma associação cultural vimaranense, dedicada ao estudo e divulgação da vida e obra de D. Afonso Henriques, foi inaugurada, em Zamora, Espanha, uma escultura de D. Afonso Henriques, da autoria dos artistas vimaranenses Dinis Ribeiro (escultor) e Abel Cardoso (arquiteto), tendo sido instalada nos jardins da Fundação D. Afonso Henriques (antigo Mosteiro de S. Francisco).
A Ordem Afonsina obteve a parceria da Fundación Rei Afonso Henriques e da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, com apoios do Ayuntamiento de Zamora e da Câmara Municipal de Guimarães.
Esta iniciativa deveu-se ao facto de se considerar a cidade de Zamora como um lugar importantíssimo da narrativa afonsina, já que foi lá que Afonso Henriques se armou cavaleiro a si mesmo, no ano de 1125 e que, mais tarde, em 5 de outubro 1143, celebrou um acordo de paz e amizade com seu primo Afonso VII, na presença do Cardeal Guido de Vico, delegado do Papa. Esta conferência seguiu-se a três anos de negociações, desde Valdevez, para as quais muito contribuiu o arcebispo de Braga, D. João Peculiar e o referido delegado pontifício.
Além disso, de acordo com a Direção da Ordem Afonsina, “esta iniciativa é um marco importante no desenvolvimento das relações de amizade e cooperação com entidades e coletividades nacionais e espanholas, interessadas em aprofundar o conhecimento histórico sobre o Primeiro Rei de Portugal, em especial aquelas que se situam em locais que foram palco dos principais factos históricos por ele protagonizados”.
E para além disso, porque se entendeu, também, que através desta iniciativa e dentro de uma dinâmica transfronteiriça de parceria cultural, se poderão criar pontes entre as cidades de Guimarães e Zamora, cujas histórias se combinam e se cruzam no horizonte medieval.
A investidura do jovem Afonso Henriques como cavaleiro, em Zamora, conforme uso e costume dos reis, encontra-se registada nos “Annales Domni Alfonsi Portugallensium regis”, nos seguintes termos:
“ Era de 1163 (1125). O ínclito infante D. Afonso Henriques, filho do conde Henrique e da rainha D. Teresa, neto de D. Afonso (VI de Leão e Castela), tendo cerca de 14 anos de idade, estando na Sé de Zamora, no dia santo de Pentecostes (28 de maio) tomou de cima do altar as armas militares e vestiu-se e cingiu-se a si próprio diante do altar, como é costume fazerem os reis...”.
Interpretando o texto, o historiador José Mattoso, afirma que D. Afonso Henriques ao armar-se cavaleiro a si próprio, “aparece como uma afirmação voluntária de independência e como uma reivindicação da categoria régia...”. O autor dos Anais, tende, por isso, a colocar neste momento, o início do afastamento do infante para com a sua mãe, fazendo da cerimónia cavaleiresca um ato de rebeldia”. (cf. José Mattoso - in Biografia, 54). Será, por isso, verosímil interpretar a investidura como um ato de afirmação de independência, garantindo, deste modo, a transmissão do Condado Portucalense a D. Afonso Henriques, afastando-o de qualquer contestação e assegurando o direito do infante à respetiva sucessão.
No médio prazo, a Ordem Afonsina tem em vista a comemoração do 9º centenário da Fundação de Portugal, em 2028, altura em que a Batalha de de S. Mamede faz 900 anos (1128-2028).
Nota sobre as caraterísticas da escultura
A escultura tem uma altura de 6m e é constituída por dois elementos: um plinto/trono e em cima do plinto erguer-se a escultura figurativa do jovem Afonso Henriques, amarrado a uma espada.
A escultura é esculpida em três tipos de pedras diferentes: a) granito da região de S. Torcato, por ser um lugar mítico da narrativa da reconquista cristã da península; b) pedra mármore, a simbolizar a ligação de Afonso Henriques às suas conquistas no sul de Portugal; c) pedra Negro Angola, a encerrar esta trilogia de materiais e que ligará o elemento escultórico à diáspora portuguesa, que se veio a verificar poucos séculos depois.