Que coisa mais bela que a fraternidade? E que coisa mais ausente que a mesma fraternidade?
Somos todos muito eloquentes a falar de fraternidade. Mas parece que (quase) todos «escorregamos» na hora de a promover.
«Que fizeste ao teu irmão?» – pergunta o Criador a Caim (cf. Gén. 4, 9-10). Caim matou o seu irmão (cf. Gén 4, 8).
Que estamos a fazer da fraternidade? A própria Revolução Francesa, que tanto a magnificou, não impediu a eliminação de opositores, num período que viria a ser conhecido como «Terror».
E deste paradoxo, que remonta à aurora dos tempos, ainda não conseguimos sair.
Parafraseando Almada Negreiros, também diria que as palavras que hão-de mudar a humanidade já estão escritas; só falta mudar a humanidade.
Mantém-se a violência, não desaparece a indiferença e não pára de disparar o individualismo.
O Mestre não Se esqueceu de nos alertar: «Vós sois todos irmãos» (Mt 23, 8). Mas é como irmãos que nos sentimos? É como irmãos que nos tratamos?
É verdade que há quem honre a palavra «irmão». Há quem não ignore o seu paradeiro, as suas necessidades. Há quem antecipe até os problemas que possa vir a sofrer.
Mas convenhamos que são excepções, excepções belas. Não podemos viver sem elas. Quanto ao resto, sobram intermitências e prevalece o vazio.
Os discursos estão cheios de fraternidade. Mas parece que as nossas vidas se encarregam de a esvaziar.
Há até alguns afloramentos de fraternidade que servem – oh supremo topete! – para excluir.
Não falta quem proclame o que faz – e se deve fazer – pelos irmãos. Mas, depois, verificamos que há quem nunca seja abordado, atendido, apoiado, lembrado sequer.
Afloram, por vezes, ditames de uma fraternidade dirigida, verticalizada, «colonizada». Onde estão os ouvidos para escutar o irmão, ainda que este tenha uma visão dissonante?
Não será tempo de ir ao encontro dos irmãos ausentes, dos irmãos discrepantes?
Não foi o que fez o pastor que, ao invés das regras de sensatez contabilística, deixou tudo para procurar a ovelha perdida? (cf. Lc 15, 4, 5)
Quando perceberemos que eu não sou nada sem os meus irmãos?
Quando perceberemos – como percebeu Matteo Zuppi – que, «quando uma pessoa mata outra pessoa, também se mata a si própria?»
E quando nos capacitaremos de que não estamos acima dos nossos irmãos? Não é acima deles que nos sentamos; é ao seu lado que caminhamos.
Porventura, não será necessário repor a fraternidade nos nossos lábios. Mas é cada vez mais urgente recolocá-la na nossa vida!