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Ideias para um Jornalismo de Inspiração Cristã

Como é público, a comunicação veiculada pelo jornal Diário do Minho respeita o seu estatuto editorial, as leis gerais da República, as convenções internacionais, a doutrina religiosa e social da Igreja católica, através do exercício de uma especial deontologia profissional e ético-religiosa. Daqui decorre que a sua informação, expressa em artigos de opinião, notícias, entrevistas e reportagens, tem por balizas estas constituições normativas, que visam salvaguardar os valores da cidadania e da moral socialmente aceites. Assim sendo, torna-se evidente o princípio de que a linha editorial do DM é livre, objetiva e isenta, e que a sua opinião é respeitadora da honra alheia, paradigma de boa-fé e fator de elevação cultural. O contrário seria a negação do próprio jornalismo.

Ora, se estes níveis de perfeição comunicacional são difíceis de alcançar num órgão de comunicação social privado, são-no ainda mais num jornal de inspiração cristã. É que este, para além de procurar ser o rosto da verdade, também tem de procurar ser o rosto das virtudes evangélicas tão magistralmente ensinadas por Jesus Cristo e seus apóstolos. Daí que não pode perder de vista a expressão dos mandamentos que lhe estão consignados enquanto órgão inscrito na matriz religiosa do catolicismo, desde logo o amor a Deus e ao próximo, ainda que esse próximo nos seja contrário ou diferente nas ideias, na cor da pele, na geografia, na cultura, nos costumes...

Amar a Deus implica amar o próximo, e amar o próximo implica não o ofender no seu bom nome e na sua honra, mesmo quando, supostamente, é merecedor de censura pública. Tais direitos de personalidade estão consagrados na generalidade dos códigos civis estaduais, como acontece no nosso Código Civil (artigo 70.º), bem como na nossa Constituição (vide artigo 26.º, n.º 1, do título referente aos direitos, liberdades e garantias). Com base nesta interpretação, e enquanto articulista do DM, tenho evitado atentar contra a dignidade de qualquer pessoa, independentemente de nacionalidades, status, culturas, ideologias, etc., porque os direitos de personalidade são uma conquista inderrogável da justiça das nações democráticas.

Dito isto, entendo que a execração de personalidades públicas internacionais, às quais possam ser assacadas violações da justiça de Deus e dos homens, não deve ser feita com recurso a argumentos ad hominem, isto é, contra a pessoa em si, mas contra os atos por elas praticados. No meu caso, ainda há bem pouco chamei a atenção do leitor para condutas que, para além das suas possíveis ilegalidades, são contrárias aos valores da cidadania e do progresso dos povos. Daí a razão por que execrei Trump, por estar indiciado em trinta e quatro crimes, alguns deles muito feios e graves; Bolsonaro, por estar sob a alçada da justiça federal do Brasil e por ter dados mostras de grande irresponsabilidade pública enquanto presidente de uma república democrática; Kim Jong-un, por negar os mais elementares direitos humanos a uma boa parte do seu povo; e Putin, por ser responsável direto da morte de centenas de milhar de soldados, civis e crianças, apesar da sua popularidade na Rússia. Hitler também o era na Alemanha nazi, tanto que arrastou atrás de si uma parte significativa da elite germânica, desde logo os famosos «médicos malditos» que realizaram experiências horríveis com os judeus deportados nos campos de extermínio.

Por razões contrárias, seria incapaz de execrar uma personalidade como Volodymyr Zelensky pelo facto de ter ascendência judaica e de ter sido comediante, porque, enquanto presidente da república da Ucrânia, só o seu desempenho de homem público deve ser escrutinado e, nesse campo, a sua ação prova que tem sido, mais do que bom, excelente. É comovente vê-lo chorar as suas crianças, lamentar o êxodo do seu povo, animar as suas tropas na frente militar, honrar os seus heróis, pedir ajuda à comunidade internacional, multiplicar-se em contactos para salvar e reconstruir o seu país. Se é judeu, parece mais cristão do que muitos que o não sabem ser; se foi comediante, aproveitou dessa experiência artística uma capacidade invulgar para comunicar com elevado grau de eficácia e persuasão.

Em suma: nota máxima para Volodymyr Zelensky. Ad multos annos, Presidente!

Fernando Pinheiro

Fernando Pinheiro

9 maio 2023