twitter

Valeu muito a pena, Cónego João Aguiar Campos

 Por norma, neste espaço, costumo escrever sobre desporto e/ou educação. Hoje vou lembrar um Mestre na Educação para a vida e um Campeão que até ao último dia, levou o jogo a penáltis, como nos prometeu.

Apesar de tanto que nos unia (infância na serra do Gerês; filhos de guarda fiscais que chegaram a trabalhar juntos; ligação ao Diário do Minho; gosto pela escrita e fotografia) cruzamo-nos pela primeira vez, na justa homenagem que o Município de Terras de Bouro entendeu fazer-lhe (agraciando-o com a medalha de ouro) no dia em que um dos muitos amigos comuns – António Cunha – apresentava o livro, Nomadismo da Alma.

A forma como se dirigiu a quem o ouvia, lembrando nomes “do antigamente” e desfilando memórias de lugares e da infância, deixou a plateia rendida a alguém que marcou, pela positiva, quem o conheceu. Voltamos a estar juntos na apresentação do seu livro “Morri ontem” onde, utilizando algumas metáforas - como só ele sabia - arrancou enormes gargalhadas às dezenas de pessoas presentes. O nosso derradeiro encontro foi em S. João do Campo na missa comemorativa dos seus 50 anos de sacerdócio e, posteriormente, no convívio no Parque de Campismo onde, quando ambos tentávamos escapar ao frio e à chuva, me disse: hoje não está dia para mangas curtas. É, pois, principalmente através dos seus escritos (e entrevistas) nas redes sociais que me delicio com as suas lições de vida.

Diz-se que tudo tem um princípio, um meio e um fim e que, quando este se aproxima, tentamos perceber se – parafraseando Moniz Pereira - valeu a pena. No caso em apreço, na minha modesta opinião, valeu MUITO a pena.

Falamos de alguém com um passado de excelência em múltiplas funções exercidas que o levaram a receber algumas condecorações; um pedagogo que em cada texto e cada linha, transmitia força de viver e constante otimismo; as vitórias contadas, mesmo que de Pirro, que ia infligindo à doença, faziam-nos questionar as minudências diárias que nos afligiam; as aprendizagens recebidas de pais e avô que connosco partilhava; a forma como usava o humor em situações limite (a conversa com os sobrinhos dizendo-lhes que se quisessem falar com ele, aproveitassem agora pois no dia do funeral não lhes dirigiria palavra e na missa de 7.º dia, nem se dignaria a aparecer).

A quem não teve oportunidade de com ele aprender em vida, informo que ainda pode fazê-lo através das muitas obras que nos legou. Com alguns dos seus “títulos” sinto, até, poder defini-lo:

- Atendendo às “Circunstâncias” da doença que levariam muitos de nós por esse “Rio abaixo”, mostrou-nos que “Descalço também se caminha”, deixando-nos algo “Intemporal”. Apregoou-o no “Morri ontem”, deixando-nos imensos odores em “Flores de feno” acompanhados de pequenos “Fragmentos” e alguns “Cochichos” que perdurarão, transformando-se em aprendizagens constantes e permanentes para quem os quiser ler e souber interpretar.

Obrigado conterrâneo. Sinto que, embora tardiamente, valeu muito a pena tê-lo conhecido, sr. “Padre, do Gerês, Optimista”*

*Como um dia se definiu, em três palavras 

Carlos Mangas

Carlos Mangas

5 maio 2023