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Remunerar a Atividade Física

O diagnóstico está feito, somos um país adoentado e com uma população pouco ativa, o que tem custos elevados para a saúde e para a economia. Os dados mais recentes, do passado ano, referentes aos resultados do Eurobarómetro para os índices de atividade física e desporto dos portugueses, não podiam ser mais preocupantes.

No quinto relatório da UE dedicado a este tema, 73% dos portugueses dizem nunca se exercitar ou praticar desporto, com mais 5% a fazê-lo apenas "raramente", mais do que os que o fazem "regularmente", 4%. "Com alguma regularidade" é a resposta de 18% dos portugueses inquiridos. As organizações nacionais não governamentais são unânimes e já expressaram por diversos meios que estes dados “são particularmente graves no país, que tem a mais alta taxa dos países europeus abrangidos pelo estudo, seguido pela Grécia (68%) e pela Polónia (65%).”

Entretanto, um estudo recentemente divulgado pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa (realizado com uma amostra de 6.369 pessoas), concluiu que “mais de dois terços da população adulta no país cumpre um valor médio semanal de atividade física moderada de pelo menos 150 minutos” (indicador de referência da Organização Mundial de Saúde). Ainda sobre este estudo, que inclui também crianças e adolescentes e pessoas idosas, e realizado em consórcio (com a Universidade do Porto, Universidade de Coimbra, Universidade de Évora e UTAD), realizado com acelerómetros que se colocam à cintura, os quais, avaliam objetivamente “se a pessoa fez mais ou menos atividade física, e a sua intensidade”, validaram segundo os autores e entidades estes resultados, de certa forma animadores.

Existe aqui uma discrepância visível entre estes dois relatórios, justificada pelos autores do estudo do Consórcio pelo facto de que o Euróbarometro decorre de questionário por telefone a cerca de mil pessoas e que “tem a ver com a forma como cada pessoa interpreta as perguntas”, estando a metodologia e eventuais diferenças na forma como as perguntas são interpretadas, ou seja, o que significa para cada um dos portugueses e para pessoas de outros países praticar atividade física.

De qualquer forma avanço neste espaço com uma proposta e que, tenho a certeza que daqui a uns anos, talvez 10 ou menos, um governante da área da atividade física e do desporto, ou eventualmente da saúde, não terá muitas hipóteses de fugir a tal medida. A proposta é simples: "Remunerar o cidadão a partir dos 18 anos com um 1€ por dia caso caminhe mais de 5 km" (este dado deve ser aferido do ponto de vista científico, mas pessoalmente não seguia as recomendações da OMS, são requisitos mesmo (muito) mínimos para a população adulta, mas deixo esta matéria aos especialistas. Não será difícil encontrar uma forma digital de verificar estes dados e proteger as pessoas em termos de RGPD. Se tivermos 1 milhão de pessoas a fazer este “score” por dia, custará ao OE 365 milões de € por ano (mais custos opcionais e materiais, digamos 400 milhões no total), mas cujo retorno em saúde e economia (aquisição de bens, diminuição das faltas ao trabalho, etc.) facilmente será multiplicado por 3 ou 4 vezes em retorno para o Estado.

Esta contabilidade com as pessoas pode ser facilmente resolvida no fim do ano usando a plataforma do IRS. Claro que há grupos especiais que têm problemas de mobilidade e esses terão que ser avaliados com programas adaptados à sua natureza, inclusão será sempre uma palavra de ordem! Quem está a ler esta proposta e já a levantar problemas, em regra, não se coloca do lado da solução, à imagem dos políticos que nos têm governado nesta(s) área(s). Fica aqui a sugestão e daqui a uns anos falaremos sobre esta proposta, ou não!

Fernando Parente

Fernando Parente

5 maio 2023