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A culpa não morra solteira

1. Recordo o provérbio antigo: errare humanum est. Onde está o ser humano aí reside a possibilidade – e muitas vezes a realidade – do erro.

Não é de admirar a existência do erro. Todos somos falíveis.

O bom senso recomenda que cada um procure errar cada vez menos e saiba conviver com pessoas que têm as suas falhas: desde a forma como escrevem (e agora, com essa do novo acordo ortográfico…) e falam, até comportamentos e atitudes que tomam.

 


2. Se errar é humano, não é próprio de gente honesta não reconhecer o erro. Como o não é persistir teimosamente no erro.

Saber dizer fui eu é a única atitude digna.

A experiência mostra ser muito fácil dizer fui eu quando se trata de receber os louros pelo feito realizado. Quando a verdade e a justiça exigem se estenda a mão à palmatória e se receba uma reprimenda…

Saber dizer fui eu. Não atribuir a responsabilidade aos outros. Não permitir que a culpa morra solteira. Não dar origem a que alguém sofra injustamente, expiando erros que não cometeu. Isto de exceder o limite de velocidade e depois dizer que o condutor era o vizinho…

 


3. Perante o erro cometido é preciso saber pedir desculpa e saber desculpar. 

Não é necessário apregoar aos quatro ventos que se errou. O importante é o arrependimento. E se, com o erro, alguém foi prejudicado material ou moralmente, que as consequências do erro sejam reparadas.

É mais fácil a reparação dos efeitos materiais (o toque na chapa do carro, por exemplo) do que dos morais. Custa menos indemnizar o lesado do que restituir o bom nome à pessoa que, em consequência do erro, foi difamada. Palavras leva-as o vento. Impossível saber onde chegam e recolhê-las. Isto de, levianamente, pôr em causa a honorabilidade dos outros…

 


4. Assumir o erro pode exigir que, em coerência, se tenha a coragem de  voltar atrás, de dar o dito por não dito, de corrigir decisões tomadas precipitadamente. 

Isto, que por alguns pode ser visto como fraqueza ou empobrecimento da autoridade, é um gesto de humildade que enobrece quem o pratica.

 


5. Às vezes fico com a impressão de haver pessoas orgulhosas de erros cometidos ou de comportamentos censuráveis, exibindo-os como troféus. Em minha opinião todos os erros, mas sobretudo os erros graves, devem ser mais motivo de vergonha do que de vaidade.

 


6. É muito difícil a convivência se quem errou não tiver a humildade de reconhecer o erro, de repor a verdade, de reparar os prejuízos, de pedir desculpa.

Pedir desculpa e desculpar. Dois comportamentos exigidos pela sã convivência.

Desculpar sem apregoar que desculpou. Sem humilhar quem errou. Sem apresentar a fatura. Sem ficar com a areia no sapato. Sem alimentar qualquer tipo de ressentimento ou desejo de vingança.

 


7. Nisto de desculpar e perdoar, um cristão coerente não deve esquecer a resposta de Jesus a Pedro: não sete vezes mas setenta vezes sete; não uma vez ou outra, mas sempre (Mateus 18, 21-34). O que não significa abusar da paciência ou da bondade de quem deve perdoar.

Pretender seguir um Mestre que pôs à frente da sua Igreja quem um dia o negou (Mateus 26, 69-75; Mateus 16, 18-19) tem o seu preço.

 


8. Não é legítimo divulgar os erros dos outros, a não ser junto de pessoas que têm o direito de os conhecer ou quando o bem comum o exigir. Mas há sempre que distinguir entre o erro que se denuncia e a pessoa que errou. Esta deve ser respeitada.

Que no dia a dia haja o cuidado de observar as normas da correção fraterna (Mateus 18, 15) exercida sempre com o propósito de ganhar o irmão e não de o perder.

Silva Araújo

Silva Araújo

4 maio 2023