É uma demonstração clara de afirmação de vaidades e pavoneios e não o desejo de serviço público o que a maioria dos políticos, hoje em dia, sente pela conquista do poder e a longevidade da sua manutenção, e a esta constatação facilmente chegamos se fizermos uma análise retrospetiva, mesmo que primária, ao perfil e atuação de grande parte dos governantes que se definem como egocêntricos e inconsequentes.
E, até, se tivermos a tentação de Diógenes de usar em pleno dia a lanterna para procurar um político que governe servindo outros mais do que se servindo a si próprio com alguma dificuldade o encontramos; e já para não falarmos sequer na falta de competência, de firmeza de caráter, de honestidade intelectual e de independência de juízo por muitos revelada e que em democracia não deviam ser possíveis.
Já dizia Margarete Thatcher – a dama de ferro – que foi primeira-ministra de Inglaterra de 1979 a 1990, ou seja durante onze anos, que a democracia não é um sistema feito para garantir que os melhores sejam eleitos, mas sim para impedir que os maus fiquem para sempre no poder; e o que foi a sua governação como líder dos conservadores só merece encómios pela sua total entrega ao bem comum e á defesa das causas maiores em prol da Humanidade.
Pois bem, o que tem acontecido no nosso país fala eloquentemente por si e dá-nos razões de sobra para pensarmos que escasseiam políticos capazes de governarem pondo sempre em primeiro lugar as necessidades, os anseios e os interesses do povo – o bem comum – em vez do seu próprio, dos grupos de amigos e compadres e do partido que representam; e, então, daqui resulta um evidente aumento das desigualdades e injustiças sociais, do aumento da queda da economia e do espoletar constante da pobreza numa clara demonstração de iniquidade, de desinteresse, de alheamento e incapacidade políticos, como se comprova pela miséria em que vivem cerca de dois milhões de portugueses.
Depois, como a demagogia, as falsas promessas, a mentira e a banha de cobra são armas de que a baixa política sempre se serve para iludir o povo, a nossa democracia tem frequentemente sido vítima desta triste realidade e assim, muitas vezes ascendem ao poder homens e mulheres pouco competentes, honestos e capazes de fazerem uma boa governação.
Ora, recuando no tempo, podemos verificar a existência na governação do país, como primeiros-ministros, políticos com uma longevidade assinalável; por exemplo, nessa função, Cavaco Silva esteve durante 10 anos, António Guterres cumpriu quase sete e José Sócrates manteve-se ligeiramente mais de seis; e o atual primeiro-ministro, António Costa, já leva sete anos e uns pozinhos neste cargo, ultrapassando Guterres e Sócrates.
E, acreditando nós que vai levar o atual mandato até ao fim que acontecerá em 2026, António Costa passa a perna a Cavaco Silva; mas, obviamente que nestas contas ficam de fora os dois mandatos de Cavaco Silva como presidente da República o que lhe dá um palmarés invejável em matéria de ação política.
Agora, pensando nós na possibilidade de muitos políticos se agarrarem ao poder mais para beneficio próprio do que por interesse nacional, será legítimo perguntar se as maiorias absolutas e as consentidas perpetuações no poder são um beneficio para o país e, consequentemente para o povo; é que, analisada à lupa, a atuação de alguns destes políticos nem sempre é oportuna e favorável o que leva a pôr em dúvida se a sua larga permanência ao leme da governação e naturalmente do poder não tenha resultado numa demonstração de apego, de egocentrismo e deslumbramento pelo poder.
Ora, a meu ver, porque esta forma de ser e de estar na política tem demonstrado e se traduz em retrocesso e malefício para o país, concretamente nas áreas social e económica, só o povo nas urnas pode inverter efetivamente a situação; porque a consentirmos maiorias absolutas ou contratos e arranjos interpartidários – as ditas geringonças – que possam garantir governações estáveis e duradoiras, mesmo que contranatura partidária, depressa teremos chefes de governo agarrados ao poder e a usufruírem da longevidade de António de Oliveira Salazar.
Ao longo da história das nações a sede, a ambição, o apego ao poder, seja de que natureza for, sempre gerou e alimentou monstros; basta que nos lembremos de Hitler, Mussolini, Mao Tsé-Tung ou Estaline.
É que, recuando um pouco na tempo, enquanto não foi aprovada legislação a limitar o exercício dos presidentes de Câmaras Municipais, houve alguns deles que perto estavam de bater Oliveira Salazar que tanto criticaram no exercício do poder; e, obviamente, numa atitude de egocentrismo, de sede e resiliência na manutenção e desempenho do cargo; e não seria má ideia de pôr em marcha igual legislação para ser aplicada aos deputados da nação e, até, a outros cargos de gestão pública.
Então, até de hoje a oito.