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A liberdade é a democracia

 

 

Há poucos dias celebraram-se 49 anos  da democracia portuguesa; cheirou a liberdade por todos os lados: uns com medo dos populismos, outros gritando por ela como quem tem medo no escuro. Valeu a pena dar aos portugueses esta liberdade que hoje usufruímos? Valeu a pena dar liberdade de expressão e organização associativa a todos nós? Julgo que, como disse Fernando Pessoa, tudo vale a pena se a alma não é pequena. Na verdade para ser democrata a sério é preciso ter uma alma grande para escutar as outras ideologias, respeitar o voto contrário ao nosso, e vencer a fobia do contraditório. A democracia não é um regime perfeito porque servido por pessoas com ambições pessoais, aproveitadores desonestos, ambições desmedidas, abusos de poder e confiança, naturalmente está muito longe de ser perfeito. A verdade é que esta democracia imperfeita foi capaz de prender um primeiro-ministro, escrutinar deputados e suspender-lhes o mandato, levar à cadeia homens da alta finança, derrubar autarcas e tudo isto no mesmo plano que dantes só pertencia aos pobres e humildes. A democracia não se esquece que somos todos iguais perante a lei e isto é um consolo íntimo tão forte que se tornou uma segunda consciência. Valeu a pena ver acabar o pé descalço, a roupa rota até ao remendo, os pedintes como enxames. Hoje não há onde estacionar seja em que lugar seja porque o automóvel substituiu o pé descalço e a roupa em andrajos. Foi com a liberdade da reivindicação que as pessoas aprenderam a lutar pelo direito à sua dignidade. Podemos perder esta democracia, com se perdeu na primeira república? Claro que se pode, basta ver com que veemência se expressam os populismos! Há algum cansaço da democracia pelo menos para aqueles jovens que não conseguem casar, viver independentes dos pais, ou por qualquer motivo não ter emprego condigno com a sua formação. É fácil canalizar descontentamentos e é igualmente fácil prometer o que se não pode dar. Esta é a base onde apeanham os populismos. Quem nunca viveu sem ser em democracia não sabe, e só sabe quem experimenta, o que era viver num regime onde se podia ser preso por ter opinião divergente do poder. Um exemplo: no dia 5 de Outubro, os democratas da primeira república rumavam ao cemitério para aí falarem em liberdades e homenagear os mártires dessa mesma liberdade. Pois eram corridos pelas forças policiais porque falar em liberdade era tão grande pecado que só a força de bastonadas se podiam corrigir. As comemorações do 25 de Abril, perderam-se uma vez mais em discursos ocos de teor e cheios de literatura quanto à forma que mais me pareceu uns jogos florais. O 25 de Abril é liberdade e é esta e não outras ideias que ali na AR devem ser homenageadas. O Lula fez mal em vir; a diplomacia portuguesa fez mal em o deixar vir, mas o desrespeito de alguns raiou o tom da má educação. Não é assim que se vive em democracia.

Paulo Fafe

Paulo Fafe

1 maio 2023