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Não «desliguemos» a luz

  1. Até parece que desligámos a luz. O sol quase deixou de brilhar. As tormentas não param de crescer. Que fizemos da esperança que tantos depositavam em nós?

Entrámos na Quaresma em noite cerrada, de passo arrastado, sem chama e quase sem rumo.

  1. «Não deveriam acender-se as lanternas – pergunta Nietzsche – em plena manhã? Mas «não ficou mais frio?»

Vamo-nos sentar no limiar da desistência, deixando que as igrejas aparentem ser «os túmulos e os sepulcros de Deus?»

  1. Só que Deus não morreu, ao contrário do que apregoava o «louco» celebrizado por Nietzsche.

Aliás, só Ele mostra estar vivo nesta avalancha de maldade que «tinge» o mundo. Há, no entanto, quem O pretenda «matar» em muitas vidas degoladas.

  1. Perante tamanha obscuridade, também «a luz precisa de tempo».

E nós de tempo precisamos para reencontrar a luz da credibilidade. E para que outros redescubram essa luz que transportamos por entre o breu as trevas.

  1. Esta terá de ser, pois e ainda mais, uma Quaresma de silêncio, de perdão, de conversão, de mudança.

E, apesar de tudo, de muita esperança.

  1. Afinal, todas as coisas se podem alterar. «Sim, até o pecado», como comentava Santo Agostinho.

Deixemos, então, que Cristo Se forme em nós (cf. Gál 4, 19). O que equivale a dizer que também é urgente que nós nos (trans)formemos em Cristo.

  1. O objectivo é que – adverte o Mestre Eckhart – «nos revistamos da forma de Cristo». De tal modo que «em nós se encontre um reflexo de todas as obras de Jesus e do Seu ser e operar».

Ainda iremos a tempo, depois de tanto que vemos, ouvimos e lemos?

  1. Não nos enterremos na noite. Também na bruma pode irromper a luz.

Paulo lembra que «a virtude se aperfeiçoa na fraqueza» (2Cor 12, 9). Deus não desiste de nós.

  1. Deus não é movido por nada «a não ser pela Sua própria bondade». Daí que a nossa prioridade tenha de ser cuidar dos que foram feridos.

Haja em vista que nem todos ferem. A maioria está com os feridos, ajudando a tratar das feridas.

  1. É pela «porta das feridas» (Tomás Halík) que Jesus Ressuscitado Se revela (cf. Jo 20, 27).

Foi por essa «porta das feridas» que Tomé voltou da incredulidade à fé (cf. Jo 20, 28). Só as «feridas» de Cristo curarão as feridas de tantos (cf. Is 53, 5; 1Ped 2, 24)!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira

Pe. João António Teixeira

Pe. João António Teixeira

28 fevereiro 2023